sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Eça & Outras

Sábado, 25 de Dezembro de 2010


J. Rentes de Carvalho
Tempo Contado

O mais recente livro de J. Rentes de Carvalho lançado entre nós (Tempo Contado) contém em si as mesmas singularidades que já outros analistas mais capazes tinham encontrado na sua obra anterior: uma ousadia pouco habitual na perseguição da verdade, seja lá isso o que for e sobre o qual não atinamos senão pela negativa. Sabemos o que é a mentira, o fingimento, o faz-de-conta, a aldrabice, a fantasia (essa sua meia-irmã mais meiga), a corrupção, a manipulação, as campanhas de intoxicação da opinião privada ou pública, o marketing, a publicidade, as crenças, as fezadas, as ideologias, as artes, os sistemas filosóficos e outros humanos devaneios, nossos ou que nos são propostos ou impostos. Mas não sabemos o que é a verdade. Podemos procurá-la bem perto, às vezes bem escondida dentro de nós, outras vezes circundando-nos, mas quase sempre não a queremos encontrar porque ela nos traz aborrecimentos, o WikiLeaks que o diga. Não, não, três vezes não! O tal sítio, o tal sujeito, não difunde verdade, e muito menos a verdade; difunde, isso sim, a sua descarada manipulação por governantes, embaixadores, militares, políticos, tudo gente que era suposto trabalhar para o bem da Humanidade, do povo a que pertencem e de cada um de nós. Mas não, eles passam a vida a difundir mentiras que gostariam que os outros acreditassem que fossem verdades, e, tal como qualquer comum mortal, têm birras terríveis quando alguém o descobre, o que revela o seu lado psicótico perigoso para, se mais não for, a liberdade. E isso sabemos o que é.
Mas, descendo à terra, a nossa vida quotidiana também é assim. Nos grandes assuntos, nas pequenas coisas comezinhas, todas elas com o tempo cada vez mais contado.
Este livro de J. Rentes de Carvalho lê-se como os anteriores: primeiro o todo e depois rebobinando a leitura, que desta vez, tratando-se de um diário dos anos 1994 e 1995, nem sequer tem a distracção de um enredo, de uma estória para acabar. O personagem é o autor, e toda a humanidade com ele, desde as gravuras do Côa, passando pela aldeia de Estevais até à cosmopolita Amsterdam, também hoje cidade de “muitas e desvairadas gentes”. Um imenso painel literário de muitas e desencontradas vidas em que o autor tropeça mas não fica indiferente, ou porque não pode ou porque não o deixam, e põe isso em livro, com a sua prosa enxuta de lirismos tolos e, muito ao contrário do que possa parecer, com muita oficina, muito lavor, muita arte. Supomos que deve ser assim a Literatura. Neste seu novo livro J. Rentes de Carvalho não deixa de, a seu modo, homenagear quem lhe propôs que assim fosse o ofício de escritor, e «…que exerceu uma influência determinante na minha formação», escreve a 22 de Maio de 1994 quando em Lisboa procura a cidade queirosiana, (pág. 19/20). E logo a 18 de Agosto continua: «Eça de Queirós não é só um dos meus escritores favoritos, mas aquele a quem eu como escritor sinto que mais devo. Ainda hoje me maravilho com a elegância da sua prosa e foi nos seus livros que descobri a maleabilidade da língua portuguesa, o poder da ironia, a arte magistral de numa frase retratar um carácter. A sua crítica impiedosa de Portugal, das instituições e da sociedade, ajudou-me, se não a aceitar, pelo menos a compreender as forças profundas que continuam a determinar o modo de ser do país em que nasci.
Por isso e mais, o respeito e a admiração que tenho por Eça de Queirós continuam intactos, não sofreram com os anos. Bem ao contrário. Mantenho até para com ele a pontinha de idolatria que me ficou da adolescência. E por vezes falo ao seu retrato. Li-lhe hoje as boas críticas com que tem sido recebida a tradução holandesa d’ O Primo Basílio e tive a impressão de que ele apreciou» (pág. 110).
Este Tempo Contado, sucessão de acontecimentos tão verdadeiros que até parecem inventados, teve com certeza em conta o que escreveu Eça em 1895 aos seus amigos Arnoso e Sabugosa: «Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem, só essa de contar historias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo. Infelizmente, quase sempre, os contistas estragam os seus contos por os encherem de literatura, de tanta literatura que nos sufoca a vida!». Neste seu livro J. Rentes de Carvalho apresenta-nos a nudez crua da verdade, deixando aos seus leitores a escolha dos mantos, diáfanos ou não, com que a queiram cobrir de fantasia. Mas depois não se lamentem. É que o nosso tempo está mesmo cada vez mais contado e cada vez nos damos mais conta «… de como o tempo de uma vida é um instante irrisório…» (p. 294). Por isso façam o favor de viver hoje e preparar o saco para amanhã. E pouco mais valerá a pena. A eternidade é este suceder de dias em que, em todos eles, nos descobrimos com Tempo Contado.

J. A. Gonçalves Guimarães


Novo livro de Dagoberto

O livro chegou e as vagas notícias e referências antes havidas materializaram-se agora nesta nova edição de crónicas ecianas intitulada D’Eça (Nabuco, Gilberto) e d’outros, de Dagoberto Carvalho J.or, com gentileza de dedicatória a este vosso amigo e ainda a Manuel Costa e Maria da Conceição Nogueira da Póvoa de Varzim; a Carolina e António Alberto Calheiros Lobo, de Espinho; a Isabel Macedo, de Oeiras de Portugal; a Laura e Armando Areias, do Recife; a Marco Santana de Oeiras do Piauí, um grupo de amigos dispersos que o autor irmanou na abertura deste livro prefaciado por Celso Barros Coelho, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras, e por Fonseca Neto membro da mesma. Os capítulos sucedem-se trazendo à lembrança Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Beatriz Berrini, Isabel Pires de Lima, Campos Matos, Dário Castro Alves e muitos outros unidos pela prosa, pensamento e culto de Eça de Queirós, com temas tão interessantes como o Natal, as Academias, a Confraria Eciana de Oeiras, os festejos de S. João e, coroando com Arte esta peregrinação literária e afectiva, o Canto da Lembrança e da Província, um caderno de poesia sobre a terra natal de Dagoberto e as imperecíveis memórias da infância posta em verso, essa forma de escrever em bronze literário o que se quer que perdure e partilhe.
Como já nos foi habituando noutras edições anteriores, é este também um livro de erudição e de coração, de afectos em volta da memória de Eça, que um dia escreveu que o Brasil tem «… um povo superiormente inteligente, provadamente activo, e escandalosamente rico…» (Cartas de Paris).

 
A minha família

No passado dia 21 de Dezembro, Francisco Barbosa da Costa lançou no Salão Paroquial de Canelas um livro sobre a sua família, as referências genealógicas a várias gerações de Barbosas, “Brasileiros”, Cavadas, Costas (Ferreiras) e Vigários, perpetuados nos seus filhos e netos.
Muito para além do interesse particular ou circunscrito ao grupo familiar actual, estes registos genealógicos, quando feitos com critério histórico, como é o caso, apresentam-nos as teias sociais que várias gerações foram urdindo desde o século XVII, a sua dispersão a partir das terras de origem, o seu lugar económico e social, a sua não menos importante relação de um núcleo familiar com os restantes com quem contactou, com quem se fundiu, com quem se cruzou.
Muito mais do que um exercício de curiosidade é assim uma obra de Historia Social que, de aparentemente pessoal, se transforma em referência para muitas outras pessoas e famílias. É só ir lá e puxar os fios da História.

Trindade Coelho
Jornadas Culturais de Mogadouro

Assinalando os 150 anos do nascimento de Trindade Coelho, advogado, político e escritor, a Câmara Municipal de Mogadouro e a Confraria Queirosiana vão realizar nos dias 18 e 19 de Junho de 2011 umas jornadas culturais que recordem aquela figura contemporânea de Eça de Queirós, mas que igualmente divulguem a cultura do nosso tempo que liga o espaço transmontano ao mundo através da obra do escritor José Rentes de Carvalho, nascido em Vila Nova de Gaia em 1930, filho e neto de naturais de Estevais de Mogadouro e que ainda hoje divide as suas origens portuguesas com as circunstâncias que o levaram a Amsterdam na Holanda e aí ter escrito sobre este nosso mundo actual das grandes cidades e dos pequenos recantos da Humanidade, das grandes questões internacionais e do dia-a-dia comum a milhões de viventes.
O programa, para além de pretender levar a Mogadouro os seus naturais na diáspora, em dois dias de convívio com os residentes, pretende igualmente ouvir e divulgar aqueles que através das memórias, da literatura ou da história têm novos contributos a dar sobre a vida e obra de Trindade Coelho ou de José Rentes de Carvalho e da moldura geográfica que une estes dois pensadores, um do século XIX e o outro do nosso século XXI.
Nesta primeira fase de divulgação destas jornadas ambas as instituições aceitam inscrições provisórias para participação, com ou sem comunicação, bastando para tal os interessados contactarem a Câmara Municipal de Mogadouro ou a Confraria Queirosiana.
À medida que o programa for enriquecido com as diversas participações, serão os inscritos contactados para a concretização da sua inscrição.
A organização destas jornadas prevê a sua conveniente divulgação, bem assim como a publicação atempada das respectivas Actas.
Ir tomar café, ou não, com

Dia de Natal, o apelo implícito à boa vontade, à tolerância, à pancadinha nas costas, ao deixa lá, que só encontra eco no cidadão comum bem formado, faz com que desejemos ir tomar café com muita gente, entre eles:
Julien Paul Assange, por ter feito por via pacífica o que outros tentaram pela força: mostrar-nos como o mundo é governado por crápulas, ridículos nos seus “segredos”, perversos ao executá-los, hipócritas ao defendê-los; Virgílio Teixeira, um cowboy português de Hollywood que partiu para a pradaria celeste; D. Duarte de Bragança, por querer ser timorense no melhor sentido da portugalidade fraterna e universal; Tozé Brito, por 40 anos de canções felizes com gente dentro; Isabel Fernandes, a museóloga dos museus vivos; Ana Gomes, porque alguém tem de gritar “o rei vai nu”; Blake Edwards, o pai da Pantera Cor de Rosa; Carlos Pinto Coelho, porque ainda Acontece.
Mas também nem com todo o espírito natalício possível e disponível me apetece ir tomar café com: Carlos César o político das excepções paroquiais; Gilberto Madaíl, porque além de bancos falidos também temos estádios falidos que ninguém quer custear.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 28 – Sábado, 25 de Dezembro de 2010
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eça & Outras

Monárquicos, republicanos e outros

Recordemos o já sabido: após a vitória liberal em 1834 formaram-se em Portugal vários partidos monárquicos, que se revezaram no poder, com mais ou menos sucesso. Alguns fundiram-se, outros cindiram-se, outros andaram à deriva. Nunca houve no Portugal oitocentista um só “partido monárquico”, mas vários.
Em 1875 é fundado um primeiro Partido Socialista e em 1876 o Partido Republicano, no mesmo ano em que os partidos monárquicos Histórico e Reformista se fundem pelo Pacto da Granja (Vila Nova de Gaia). Em 1878 é eleito pelo círculo do Porto, Rodrigues de Freitas, o primeiro deputado republicano. Em 1887 surge, também no Porto, o jornal anarquista A Revolução Social.
São, basicamente, estes os grupos que irão condicionar a vida política portuguesa até pouco depois do 28 de Maio de 1926, organizados em diversos partidos, também com as suas facções, fusões, dissensões e estratégias.
No que diz respeito ao evoluir da sociedade portuguesa não estavam todos de acordo, mas, também basicamente, os monárquicos defendiam várias ideias de Monarquia e os republicanos várias concepções de República. Por sua vez, aos socialistas era-lhes indiferente o regime, pois a sua acção visava a melhoria da consciência individual e social, o que ia muito para além das querelas partidárias, enquanto os anarquistas estavam contra um e outro regime, pois em ambos viam os mesmos defeitos que oprimiam as classes trabalhadoras e os livres-pensadores.
Com a implantação do regime republicano em 1910, todas estas correntes de pensamento político continuaram a existir e não foi pela questão formal do regime que o Estado Novo as perseguiu, mas sim pelo seu maior ou menor empenhamento na transformação da sociedade. Por isso, durante a ditadura continuaram a existir monárquicos saudosos, republicanos teimosos, socialistas adiados e anarquistas silenciosos. O Partido Comunista aparece em 1921. A União Nacional, o partido único da ditadura, com pseudónimo, durou até 25 de Abril de 1974.
Com a implantação do regime democrático em 1974 estas correntes organizaram-se livremente em partidos, mais ou menos efémeros, mais ou menos duradouros, mas todos se dizendo democráticos, ou seja, procurando defender os interesses do «povo», agora considerado como a totalidade dos cidadãos independentemente da classe social, fortuna ou opção ideológica, o que antes não era entendido assim pelos diversos partidos, pois alguns deles reclamavam-se «de classe». Ora o que nestes cem anos os partidos mostraram foi a crescente proletarização das antigas classes e a assunção pelos proletários dos valores e modo de vida da burguesia, ou, pelo menos, da pequena burguesia.
Fará assim hoje sentido alguém dizer-se monárquico ou republicano? A verdadeira questão do regime não será a maior ou menor democracia representativa? O alguém dizer-se social-democrata lembrará as convicções de Lenine ou de Rosa Luxemburgo? E quantos equívocos comporta hoje a denominação de socialista: Mário Soares “descende” de Bernardino Machado ou de Antero de Quental? E não é verdade que a maior parte daqueles a quem os media chamam anarquistas nada saberão sobre Proudhon?
Em Portugal os reis sempre foram aclamados pelo povo, eleitos para reinarem em seu nome. Pode ser que entre nós volte a haver Monarquia: mesmo países comunistas como a Coreia do Norte, e do mundo árabe, como a Síria, já estão em regime de republicomonarquia. Nestes países o líder é aclamado por um Congresso, mas já não é eleito pelo povo e normalmente sucede ao pai. Por outro lado, como viver com o confuso sistema eleitoral estadunidense que permite em alguns estados a chegada ao poder de cidadãos com baixíssimo índice cultural? E as repúblicas africanas em golpe de estado permanente com massacres humanos nos intervalos?
Tenha Portugal um rei ou uma rainha, uma ou um presidente, que os tenha bons, sensatos, justos, prestigiados, patriotas e capazes de entenderem o mundo de hoje e o que virá para os nossos filhos e netos. O passado, que irremediavelmente já passou, só vale como cautela de lotaria da vida a haver. É útil se for entendido como um filme em marcha reversível que podemos fazer parar para com ele aprendermos e depois escolhermos a sequência final.
Sobre os adeptos daquelas denominações políticas antigas, que as mais das vezes são apenas a arca que apenas tem dentro um jornal velho e esquecido que se herdou e se tem de respeitar, com todo o respeito democrático direi como Eça de Queirós, com as pessoais adaptações: «constitucionalistas, socialistas, miguelistas, jacobinos, de resto, para mim, como romancista [ como historiador], são todos produtos sociais, bons para a Arte [a História], quando são típicos, todos igualmente explicáveis, todos igualmente interessantes. O dever do artista [do historiador] é estudá-los, como o botânico estuda as plantas, sem se importar que seja a beladona ou a batata, que envenena ou nutra» (Notas Contemporâneas, entre [ ] nosso).
Às minhas simpatias políticas ou pessoais, que obviamente também as tenho, procuro sempre sobrepor o que entendo como interesse colectivo. Interessa-me mais ser português pleno, seja lá isso o que for, do que um dos Sanchos Panças dos D. Quixotes da ocidental praia lusitana. Sejam eles presidentes ou reis.
Mas, democraticamente falando, não tenho para mim que o regime republicano seja um bezerro de ouro ou vaca sagrada. Tem sido o que existe desde 1910 com os falhanços que lhe conhecemos. Até quando, não sei. Sei o que quero que lhe suceda e, muito para além dos aspectos formais do regime, com certeza um Portugal melhor.

J. A. Gonçalves Guimarães

 8.º Capítulo da Confraria Queirosiana

No passado dia 20 de Novembro decorreu no Solar Condes de Resende mais um capítulo em que foram insigniados : Maria Alda Barata Salgueiro, Maria Angelina dos Santos Rodrigues, Maria Augusta Osório de Castro P. D. dos Santos Lemos, Maria Luísa Pinto Costa Lima Tavares, todas professoras; António Manuel Lacerda Vieira, arquitecto; Nuno Miguel de Resende Jorge e Mendes, historiador e José Manuel Alves Tedim, vice-reitor da Universidade Portucalense.
Como confrades de honra, Hélio Loureiro, chefe de cozinha; Carlos Alberto Santarém Nunes Andrade, bibliotecário; Ana Margarida de Sousa Dinis Vieira, professora e Ana Teresa Peixinho, professora da Universidade de Coimbra.
Foi igualmente lançado o n.º7 da Revista de Portugal, nova série, apresentado pelo seu director Luís Manuel de Araújo, e o livro Republicanos, monárquicos e outros… de J. A. Gonçalves Guimarães, apresentado por César Oliveira, presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia.
Após a deposição de uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós, seguiu-se o jantar queirosiano com ementa adequada, a que se seguiu o Baile das Camélias até cerca da uma da madrugada.
Uma reportagem sobre este capítulo pode ser vista em www.cm-gaia.pt.

Revista de Portugal

Este número sete da nova série da revista fundada em 1889 por Eça de Queirós apresenta artigos de Dagoberto Carvalho J.or, sobre Joaquim Nabuco; de Gonçalves Guimarães, sobre Xangai antiga; de Anabela Mimoso, sobre As Farpas; de Manuel Ivo Cruz, sobre o maestro Cruges de Os Maias; de Marco Valente, sobre Arte Rupestre, e ainda recensões de José António Afonso, Luís Manuel de Araújo e Gonçalves Guimarães. Este número abre com um editorial sobre Eça de Queirós e a República e uma entrevista, inédita em Portugal, que J. Rentes de Carvalho fez a José Saramago em 1989, fechando com a bibliografia dos sócios e as actividades dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana referentes a 2009.
Esta edição, com a capa e editorial alusivos ao centenário da República, teve o apoio da Gaianima.

Obras de J. Rentes de Carvalho


Acaba de sair para o mercado a 3.ª edição portuguesa do romance Ernestina sob a chancela da Quetzal, que igualmente editou um novo livro deste autor com o mesmo título do seu blogue Tempo Contado, mas que apresenta um seu diário escrito entre 1994 – 1995.
O público português descobre assim este seu escritor queirosiano do século XX/XXI cuja obra surpreende e encanta cada vez que é lida e relida.

Eça de Queirós no Brasil

No passado dia 15 de Novembro, no mercado da Ribeira em Olinda, Brasil, Dagoberto Carvalho J.or, presidente da Sociedade Eça de Queirós do Recife, fundada em 1948, lançou o seu sétimo livro de estudos queirosianos, intitulado Paixão por Eça, ao qual nos voltaremos a referir em próxima edição.
Vai igualmente lançar um livro de poesias esquecido na gaveta.

Eça na América do Sul

A Fundação Eça de Queirós sediada em Santa Cruz do Douro, Baião, promoveu no passado dia 1 de Novembro em Buenos Aires na Universidade Três de Fevereiro uma conferência por Isabel Pires de Lima intitulada “Eça de Queirós – Mestre do romance oitocentista”, a qual foi depois repetida a 5 deste mês na Universidade do Congresso na cidade de Mendoza também na Argentina.
Com Irene Fialho da Universidade de Coimbra e Manuel Loff da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, aquela professora catedrática desta última instituição apresentou a conferência “Da Geração de 70 à Republica” no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro a 8 de Novembro e no Recife a 11 deste mês.

Poesia de Maria Virgínia Monteiro

No passado dia 4 de Novembro na Cooperativa Árvore, no Porto, foi lançada nova obra de poesia de Maria Virginia Monteiro, intitulada Longo é o tempo, editada pela Singular/Plural com o apoio da Gaianima, EEM.
A autora prossegue assim a sua activa oficina da palavra e da ideia em busca dos humanos sinais que permanecem para além do tempo.

Valença Cabral em Aveiro

Depois de Chaves, a Galeria Morgados da Pedricosa em Aveiro apresenta ao público até 28 de Novembro a exposição “Lugares sentidos” de Valença Cabral, com o apoio da AveiroArte e da Câmara Municipal.

Bronzes de Beatriz

A 20 de Novembro no Espaço Arte - Museu Municipal Carmen Miranda, Beatriz Pacheco Pereira apresentou as suas mais recentes esculturas em bronze. A exposição estará patente até 10 de Dezembro.

Ir tomar café (ou não) com:

Gostaríamos de tomar café com: Alfredo Margarido, o investigador de temas sociais que a Universidade desprezou; Miguel Soares e Miguel Prudêncio, pelos seus projectos para combater a malária; Raul Ruiz, o novo cineasta de Camilo.

Não queremos ir tomar café com: Carlos Costa, o gerente do Banco de Portugal que acha normal Portugal ser esfolado vivo pelos agiotas internacionais; Mohamed VI de Marrocos por eternizar o sofrimento do povo do Sara Ocidental.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 27 – Quinta-feira, 25 de Novembro de 2010
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eça & Outras

Documento secreto sobre a guerra no Afeganistão

Enquanto se aproxima do fim a guerra política em Portugal para aprovação do Orçamento de Estado para 2011, esta página, à falta de melhor, e tal com os grandes jornais americanos, entendeu também divulgar um documento secreto sobre a guerra no Afeganistão, a qual é muito mais antiga do que aquela outra entre o PSD e o PS. Efectivamente, foi-nos enviado em tempos pelo nosso agente secreto em Leiria, Eng.º Charters d’Azevedo, com pedido de divulgação cautelosa para não ferirmos susceptibilidades diplomáticas na próxima cimeira da OTAN em Lisboa, o seguinte texto de Eça de Queirós:
«Os ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia, a verdade desse humorístico lugar comum do séc. XVIII: “A História é uma velhota que se repete sem cessar”.
O Fado e a Providência, ou a Entidade qualquer que lá de cima dirigiu os episódios da campanha do Afeganistão em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.
Em 1847 os ingleses, "por uma Razão de Estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia..." e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente, retorcendo os bigodes - invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e, logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame, e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.
No nosso tempo, precisamente como em 1847, chefes enérgicos, Messias indígenas, vão percorrendo o território, e com os grandes nomes de "Pátria" e de "Religião", pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o "homem vermelho", e em pouco tempo é tudo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a estrada da Índia... E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente, por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o.
Foi assim em 1847, é assim em 1880. Então os restos debandados do exército refugiam-se nalguma das cidades da fronteira, que ora é Ghasnat ora Kandahar: os afegãos correm, põem o cerco, cerco lento, cerco de vagares orientais: o general sitiado, que nessas guerras asiáticas pode sempre comunicar, telegrafa para o viso-rei da Índia, reclamando com furor "reforços, chá e açúcar"! (Isto é textual; foi o general Roberts que soltou há dias este grito de gulodice britânica; o inglês, sem chá, bate-se frouxamente). Então o governo da Índia, gastando milhões de libras, como quem gasta água, manda a toda a pressa fardos disformes de chá reparador, brancas colinas de açúcar, e dez ou quinze mil homens. De Inglaterra partem esses negros e monstruosos transportes de guerra, arcas de Noé a vapor, levando acampamentos, rebanhos de cavalos, parques de artilharia, toda uma invasão temerosa... Foi assim em 1847, assim é em 1880.
Esta hoste desembarca no Industão, junta-se a outras colunas de tropa índia, e é dirigida dia e noite sobre a fronteira em expressos a quarenta milhas por hora; daí começa uma marcha assoladora, com cinquenta mil camelos de bagagens, telégrafos, máquinas hidráulicas, e uma cavalgada eloquente de correspondentes de jornais. Uma manhã avista-se Kandahar ou Ghasnat;- e num momento, é aniquilado, disperso no pó da planície o pobre exército afegão com as suas cimitarras de melodrama e as suas veneráveis colubrinas do modelo das que outrora fizeram fogo em Diu. Ghasnat está livre! Kandahar está livre! Hurrah! Faz-se imediatamente disto uma canção patriótica; e a façanha é por toda a Inglaterra popularizada numa estampa, em que se vê o general libertador e o general sitiado apertando-se a mão com veemência, no primeiro plano, entre cavalos empinados e granadeiros belos como Apolos, que expiram em atitude nobre! Foi assim em 1847; há-de ser assim em 1880.
No entanto, em desfiladeiro e monte, milhares de homens que, ou defendiam a pátria ou morriam pela "fronteira científica", lá ficam, pasto de corvos - o que não é, no Afeganistão, uma respeitável imagem de retórica: aí, são os corvos que nas cidades fazem a limpeza das ruas, comendo as imundices, e em campos de batalha purificam o ar, devorando os restos das derrotas.
E de tanto sangue, tanta agonia, tanto luto, que resta por fim? Uma canção patriótica, uma estampa idiota nas salas de jantar, mais tarde uma linha de prosa numa página de crónica...
Consoladora filosofia das guerras!
No entanto, a Inglaterra goza por algum tempo a "grande vitória do Afeganistão" - com a certeza de ter de recomeçar, daqui a dez anos ou quinze anos; porque nem pode conquistar e anexar um vasto reino, que é grande como a França, nem pode consentir, colados à sua ilharga, uns poucos de milhões de homens fanáticos, batalhadores e hostis. A "política" portanto é debilitá-los periodicamente, com uma invasão arruinadora. São as fortes necessidades dum grande império.
Antes possuir apenas um quintalejo, com uma vaca para o leite e dois pés de alface para as merendas de verão...»
Este lúcido relatório escrito pelo nosso cônsul em Londres, publicado depois nas suas Cartas de Inglaterra e onde V. Ex.as farão o favor de actualizar camelos para jeeps e ingleses para “eixo da imperial saudade”, o qual engloba os ditos, mai-los estadunidenses e alguns outros países incluindo o falido Portugal. E para terminar apenas diremos como o cônsul: foi assim em 1880, ainda é assim em 2010. Raios partam «a velhota»!
J. A. Gonçalves Guimarães

8.º Grande Capítulo

No próximo dia 20 de Novembro terá lugar no Solar Condes de Resende o 8.º Grande Capítulo da Confraria Queirosiana que este ano vai insigniar como confrades de honra e número, José Manuel Alves Tedim, Ana Teresa Peixinho, Ana Margarida de Sousa Dinis Vieira, Nuno Resende, Carlos Santarém Andrade, Alda Barata Salgueiro, Maria Augusta Osório e Hélio Loureiro.
Nesta cerimónia será ainda apresentado o n.º 7 da Revista de Portugal, este ano dedicada ao tema “Eça de Queirós era monárquico, republicano ou anarquista?” e o livro Republicanos monárquicos e outros….
Como habitualmente o convívio dos queirosianos terminará com um jantar e o Baile das camélias.

Património Religioso e Arte Sacra









Está a decorrer no Solar Condes de Resende o curso livre sobre Património Religioso e Arte Sacra, organizado pela Academia Eça de Queirós e que tem como conferencistas José Manuel Tedim, Luís Manuel de Araújo, Carlos A. Brochado de Almeida, J. A. Gonçalves Guimarães, Nuno Resende, António Manuel Silva e Arlindo de Magalhães Ribeiro da Cunha.
As sessões decorrem aos sábados à tarde no Solar Condes de Resende ao ritmo de duas por mês. A frequência do curso implica o pagamento de inscrição.


Livro sobre Manuel de Arriaga


Com texto de José Vaz e ilustrações da Helena Magalhães, o Governo dos Açores acaba de editar “O Homem que falava com as flores”, uma biografia do 1º Presidente da República Manuel de Arriaga, destinada aos mais jovens, a qual será apresentada ao público no início de 2011.



Roteiros queirosianos



Acabam de ser publicadas as Actas das II Jornadas Internacionais de Turismo, organizadas por Eduardo Cordeiro Gonçalves e realizadas pelo ISMAI em 2009. Os seus dois volumes apresentam numerosos estudos sobre a problemático actual do Turismo, entre os quais “Roteiros queirosianos: da Literatura ao Turismo”, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães.



Prémio para queirosiano

O júri do Prémio Jacinto do Prado Coelho 2009, promovido pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, atribuiu este galardão ao nosso confrade A. Campos Matos pelo seu livro “Eça de Queiroz. Uma biografia” editado pela Afrontamento.
Em comunicado o júri salientou não apenas esta obra, mas também «a consagração de uma vida intelectual em torno de Eça de Queirós invariavelmente marcada pelo rigor e pela qualidade», referindo-se ao percurso de vida do próprio autor.
Em recente visita ao norte, A. Campos Matos e sua esposa passaram pelo Solar Condes de Resende, onde almoçaram com Nassalete Miranda, directora do jornal “As Artes entre a Letras” que a este prémio deu o devido destaque.

Pintura de Valença Cabral

No Santa Maria Bar no Centro Histórico de Chaves estará patente até ao dia 30 de Outubro uma exposição de pintura de Valença Cabral, que também expôs quadros seus na presente edição do Salon d’Automne queirosiano no Solar Condes de Resende.
Este pintor vem depurando a sua expressão plástica até um impressionante lirismo quase abstracto ou, dito de outro modo, até um abstraccionismo lírico onde as paisagens se transformam em movimentos e cores com uma enorme dinâmica.

Ir tomar café (ou não) com:

Vamos – desta vez somos mais alguns – tomar café com; Jorge Luís Borges, por nunca ter ganho o Prémio Nobel da Literatura; José Manuel Fernandes, pelo seu artigo sobre as tristes semelhanças entre a 1.º República e a situação política actual; Liu Xiaoboo, prémio Nobel da Paz preso por discordar; Mariana Rey Monteiro, Lady do Teatro; Paula Rego, Lady da Arte; Paulo Barradas, o deputado que já descobriu o que é conviver com analfabetos políticos; Ray Moyniham, o investigador da paranóia farmacêutica que inventou os “pré-doentes”; Joanatan Hapira, ex-piloto israelita, Reuven Moskovtiz, sobrevivente do Holocausto, e Rami Elhanan, que quiseram ir a Gaza levar brinquedos às crianças palestinianas sitíadas na sua terra.

Não queremos ir tomar café com:

Cristina Kirchner, a presidente da Argentina que não gosta da liberdade de imprensa; Fernando Rosas, porque a História não se deve emendar retroactivamente com as convicções políticas do historiador; Robert Edwards, Prémio Nobel da Medicina porque a fertilização in vitro é imoral enquanto houver crianças para adoptar; e todos aqueles que, desde 25 de Abril de 1974, tendo sido elevados ao poder pelo voto do povo, devido à sua ganância, oportunismo, nepotismo, irresponsabilidade, corrupção, ignorância, omissão, compadrio, complacência, calculismo, arrogância, chico-espertice, etc, etc, transformaram este país no desastre actual. Na impossibilidade de publicar aqui essa enorme lista, faça você mesmo a sua. Vai ver em quantos nomes coincidimos.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 26 – Segunda-feira, 25 de Outubro de 2010

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colaboração: Nuno Resende; Ricardo Charters d’Azevedo.


sábado, 25 de setembro de 2010

Eça & Outras

O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

Decorrem no presente ano de 2010, por imperativo do calendário e decisão política, as evocações do centenário da República, ocasião excelente para Portugal inteiro reflectir sobre o que se passou há cem anos, o regime que vigorou entre 1910 e 1926, o que se impôs até 1974, e finalmente o que temos tido desde aquela data até pouco depois de amanhã.

Não é possível inverter a marcha da História e muito menos julgar o passado ou aqueles que o fizeram ou viveram; mas é possível sobre tal fazer uma reflexão sem muitos preconceitos ideológicos, tentando saber mais sobre os acontecimentos, tanto quanto o exercício histórico o permite, sabendo-se de antemão que qualquer juízo sobre qualquer pessoa, sociedade ou regime político é sempre parcial, oscilando entre a glorificação e o denegrir, quando a vida não é a preto e branco.

Não sendo de todo possível a isenção ideológica completamente asséptica, mesmo assim, como historiador, entendi dar o meu pequeno contributo para esta reflexão no livro “Republicanos, monárquicos e outros: as vereações gaienses durante a 1.ª República (1910 – 1926)”, que a Confraria Queirosiana decidiu editar e por à disposição do publico ledor. Não me competindo a análise das suas eventuais qualidades e possíveis defeitos, direi que comecei por reanalisar o que Eça de Queirós pensava sobre a República, depois recordar o que têm sido as repúblicas, monarquias e outros regimes políticos ao longo dos tempos nas diversas latitudes, regressando em seguida a Vila Nova de Gaia, como caso em análise, e recordar o que foi a sua administração antes e depois de 5 de Outubro de 1910, geralmente muito pouco conhecida neste município monárquico, republicano, socialista e anarquista (estas últimas correntes como a terceira via que não vingou), descrevendo as vereações entre 1910 e 1926, formadas por homens concretos, entre os quais encontramos sábios como Maximiano Lemos, além de médicos, industriais, comerciantes e escritores hoje pouco lembrados, e outros nomes que se esfumaram no olvido da História, que também o pratica, e nem sempre justo.

Tudo isto enquadrado nos factos mais relevantes da época, a nível mundial, europeu e nacional, como a I Grande Guerra e a 1.ª Travessia Aérea Lisboa–Rio de Janeiro. O livro termina com uma síntese sobre o que ficou daqueles desgraçados tempos, pois a 1.ª República foi um monumental falhanço da classe média, absolutamente incapaz para dirigir com sucesso os destinos do país e não há como negá-lo ou escondê-lo. O facto de ter tido a servi-la homens e mulheres inteligentes, generosos e com visão de futuro, não invalida que muitos deles tivessem sido ingénuos, ou se tivessem deixado engolir pelos interesses em presença, ou se bandeassem com as correntes políticas dominantes, o que, só por si, não transformou a quimera política em bem estar social. Eça de Queirós escreveu em 1898 que «a única obra urgente do mundo – a casa para todos, o pão para todos» não tinha até então sido realizada quer pelas monarquias quer pelas repúblicas e tal continua a ser desgraçadamente verdade. O bem, ou o mal, não estará pois nos regimes políticos.

Nos últimos tempos temos assistido à publicação de muitos livros e textos sobre a 1.ª Republica, alguns ainda, estranhamente, sob a forma de Vivas! e Morras! o que é, no mínimo, absurdo. A maior parte deles volta a reescrever a história oficial já conhecida. Poucos são os que falam com desenvoltura e isenção sobre os assaltos às mercearias pelos que morriam de fome, os que açambarcavam bens alimentares e faziam candongas, negociatas e cambalachos em nome do “povo e dos interesses da Pátria”, os que fugiram ou se esconderam para não serem mobilizados para uma guerra entre ingleses, franceses e alemães em luta pela supremacia na Europa e no mundo, os que tiveram morte lenta e inglória nas colónias portuguesas de África, os perseguidos e agredidos por questões ideológicas ou confessionais, os que minaram as instituições públicas em detrimento dos interesses de seita ou corporação, os espoliados pelo “interesse público”, os que enriqueceram com a República enquanto o país se miseriabilizava a todos os níveis. Ainda não será neste centenário que se fará a História da 1.ª República, até porque são os netos e os bisnetos dos que a fizeram que estão hoje no poder. E família… é família. Mas podemos ir tentando aclarar as questões que estão por esclarecer.

Este livro é apenas uma pequena abordagem, que pretende ser concreta e factual, sobre os homens que no município de Vila Nova de Gaia estiveram à frente dos destinos colectivos num dado momento histórico. Conhecê-los, saber quem realmente eles eram, ajudará a compreender o que ficou e o que não ficou para o futuro que é hoje o nosso quotidiano.

É literariamente interessante o dito de que a República se espalhou pelo país através do telégrafo; mas convém que procuremos saber quem eram os telegrafistas em cada estação. Para não se repetir sempre a mesma coisa até ao próximo centenário.

Desculpem esta auto-apresentação de um livro que eu próprio escrevi. Podia ter pedido a um amigo para o fazer, mas prefiro antes que o comentem e critiquem depois de o lerem.

Eça de Queirós tinha sérias reservas sobre a República. Infelizmente, e como quase sempre, a História confirmou as suas preocupações.
J. A. Gonçalves Guimarães
historiador
SALON D’AUTOMNE 2010

Hoje, pelas 17,30 horas decorrerá no Solar Condes de Resende a abertura da 5.ª edição do Salon d’Automne queirosiano 2010 o qual reúne obras de artistas profissionais e amadores que são sócios dos ASCR – Confraria Queirosiana, nomeadamente Alexandre Rufo, Amélia Traça, António Pinto, António Rua, Ariosto Madureira, Carolina Calheiros Lobo, Fernando Coimbra, Glória Nunes, Ilda Gomes, Rosalina Pinto, Rosário Sousa, Rui Soares, Simões Duarte e Valença Cabral, alguns dos quais expõem pela primeira vez e outros são já consagrados, mostrando estes assim um gesto de camaradagem para com os
praticantes iniciados e amadores, alguns dos quais alunos do curso livre de Pintura do Solar.

Depois da inauguração decorrerá no Solar um jantar de confraternização entre os artistas participantes. Como habitualmente, foi editado um artístico catálogo organizado por Fátima Teixeira, com o patrocínio da Gaianima e prefácio de Mário Dorminsky, vereador da Cultura da Câmara de Gaia.

SOCIEDADE EÇA DE QUEIRÓS DO RIO DE JANEIRO

Pela mão amiga e sempre presente de Dagoberto Carvalho J.or chegou-nos do “lado di lá” a brochura de Luiz de Castro Souza intitulada “Evolução da Sociedade Eça de Queiroz: 1997-2009” recentemente editada e que descreve a vida e actividade desta sociedade irmã, que realiza encontros mensais na Sala Miami do Hotel Flórida no Rio de Janeiro, e que sucedeu a um efémero Clube do Eça fundado em 1955.

Nestes encontros, após o almoço de confraternização, é sempre proferida uma palestra sobre um tema eciano, nomeadamente a evocação do escritor no país irmão e os estudos aí realizados sobre a biografia de amigos de Eça e o apreço pelas suas obras. A própria Sociedade edita estas palestras e possui uma notável galeria de retratos e caricaturas do nosso patrono comum.

A Confraria Queirosiana, que tem como propósito estatutário manter ligação com todas as sociedades queirosianas existentes no mundo, já iniciou os seus contactos com a Sociedade Eça de Queiroz do Rio de Janeiro.

MÚMIAS EGÍPCIAS

As três múmias egípcias da colecção do Museu Nacional de Arqueologia estão a estudadas ser pela primeira vez por uma equipa pluridisciplinar que reúne vários especialistas, entre eles Luís Raposo, Carlos Prates, Álvaro Figueiredo e Luís Manuel de Araújo, este último egiptólogo e vice-presidente da direcção da Confraria Queirosiana.

O Lisbon Mummy Project tem o apoio de Imagens Médicas Associadas (IMI), da Siemens e do Universsity College de Londres, sendo coordenado por Luís Raposo director do Museu Nacional de Arqueologia, o tal museu que querem pôr nos barracões da Cordoaria na margem do Tejo…

Os exames realizados permitirão o estudo integral das três múmias por processos não destrutivos. Entretanto, no passado mês de Agosto, aquele egiptólogo guiou mais uma vez uma admirável visita ao Egipto, desta feita para aos alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. No próximo ano, a convite da Comissão do Centenário da Universidade do Porto, irá publicar o estudo da colecção egípcia desta universidade.
VINHAS E VINHOS EM CONGRESSO
Entre 13 e 16 de Outubro próximo decorrerá em Peso da Régua, Viseu, Mangualde, Porto, Ponte de Lima e Viana do Castelo um 1º Congresso Internacional sobre este tema organizado pela Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho/GEHVID, o qual contará com a presença de especialistas estrangeiros e nacionais de renome.

A Confraria Queirosiana estará presente através do seu mesário-mor na Comissão Organizadora e com uma comunicação que apresentará em colaboração com Susana Guimarães intitulada “Vinho do Douro na Casa dos Condes de Resende”. Para além das sessões científicas o Congresso visitará alguns dos mais emblemáticos sítios vitivinícolas das regiões dos Vinhos Verdes, Dão e Douro.

EXPO 1940 REVISITADA
Acaba de ser reeditado o romance breve de Mário Claudio “Tocata para dois Clarins” pela D. Quixote, um misto de recriação literária sobre um acontecimento real narrado por quem o viu e viveu, no caso os pais do escritor, decorrendo a acção entre 1936 e 1941, o ano do nascimento do escritor.

A “Exposição do Mundo Português” foi uma gigantesca operação de propaganda do regime de Salazar que marcou durante as décadas de quarenta e cinquenta a Cultura, a Arte, o Cinema, a História, a Literatura e outros aspectos da vida portuguesa assentes sobre os arquétipos de “Deus-Pátria-Família” e do Império Português.

Nesta exposição participaram “todos” os artistas portugueses que António Ferro queria anjos estetas para além da teoria e da ideologia. Mas nem mesmo todas as obras da exposição resistiram ao desmontar da feira: quem se lembrará hoje do gigantesco mural em relevo de Raul Xavier a evocar Aljubarrota? Para que servirão os trajos e adereços de opereta do “cortejo histórico” que jaziam meios podres ainda nos finais dos anos oitenta num barracão da Câmara Municipal de Lisboa e que hoje não sei se lá continuam, mais podres e mais inúteis, por certo.

Sem as peias do historiador e com o muito da sua escrita pessoal, Mário Cláudio leva-nos assim de visita ao maior acontecimento efémero português do século XX.

A MORTE DO BARÃO

Prosseguindo na sua azáfama de trazer do olvido à luz actual algumas figuras, factos e locais de Leiria e da região estremenha, no passado dia 18 de Setembro foi apresentada a obra de Ricardo Charters d’Azevedo, “A Morte do Barão de Porto de Mós” na terra que lhe deu título.

Conselheiro do Tribunal de Contas e político de relevo na época de D. Maria II, viria a ser assassinado em Setembro de 1867 perto da Nazaré.

A apresentação da obra esteve a cargo do Prof. Guilherme de Oliveira Martins, actual presidente do Tribunal de Contas e ele próprio biógrafo de figuras oitocentistas.
PRÉMIO MARIA ALBERTA MENÉRES
Maria Alberta Menéres nasceu em 1930 em Vila Nova de Gaia, tendo-se licenciado em Ciências Histórico Filosóficas. Além de professora, chefiou o departamento de programas infantis e juvenis da RTP e tem inúmeras obras publicadas no âmbito da poesia, da antologia e da literatura infanto-juvenil. É mãe da cantora Eugénia Melo e Castro.

O Município de Gaia, através do pelouro da Cultura da Biblioteca Municipal e da Gaianima, EEM criou um prémio com o seu nome para a modalidade de Conto Ilustrado. O regulamento pode ser visto em www.bmgaia.gaianima.pt.

TOMAR CAFÉ OU NÃO COM…

Sim, gostaria de tomar café com: Manuel Maria Carrilho, se possível em Ervamoira; Nuno Cardoso Santos, pelo seu prémio em Astrofísica; Kurt Westergaard porque o humor é divino e a cólera é satânica; Luís de Matos por ser um verdadeiro mágico; Cesária Évora, a maior fadista crioula.

Não, não quero ir tomar café com Carla Bruni, que não foi eleita por ninguém.
Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 25 – Sábado, 25 de Setembro de 2010
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Eça & Outras

Museu do Côa

ao Nelson, com um abraço

«Uma verdadeira história da humanidade seria a história da arte; não se conheceriam os dédalos políticos, as ambições terríveis, as pequenas intrigas de reis e de papas – mas ficar-se-ia sabendo uma coisa superior: a alma das raças, os génios do povo, o espírito passado com as suas crenças, religiões e sentimentos».

Eça de Queirós – Distrito de Évora, 1867


No passado dia 30 de Julho foi inaugurado o Museu do Côa pelo primeiro ministro, ministra da Cultura, ex-ministros, seguranças, directores gerais, ex-directores gerais, autarcas e ex-autarcas, arqueólogos e ex-arqueólogos, funcionários e ex-funcionários, jornalistas, convidados e não convidados, activistas disto e daquilo, pacifistas que se pelam por uma boa inauguração, curiosos, filarmónicos, GNR e povo quanto bastou para encher o auditório e adjacências.

Independentemente do espectáculo, que mereceu nos jornais e televisões muito menor destaque do que as habituais banalidades, tratou-se realmente de um acto de Cultura, seja lá qual for a bancada em que o meu caro leitor esteja sentado a assistir ou a participar na polémica entre os que querem betonar o país e os que se deleitam com outras práticas e saberes. Foz Côa, por agora, libertou-se da banheira de água choca que lhe queriam por à ilharga, mas o país não se livrou ainda dos que a querem construir. À cautela, à cautela, o Museu foi construído a uma cota conveniente para um dia destes eles voltarem a atacar. Trata-se realmente de um edifício feliz e belo, humanamente grandioso, humildemente inserido na paisagem ainda mais grandiosa, forte para guardar a fragilidade da humana memória do passado, mas fraco por albergar um único segmento do património do Vale do Côa – as gravuras do paleolítico – importante sem dúvida, mas não o único que o Vale e a região apresentam. E essa tem sido a maior fragilidade do projecto, a aposta num único produto cultural que o cidadão turista comum, visto uma primeira vez, não volta para ver segunda, para além de poder ficar com erradíssima ideia de que Foz Côa parou no paleolítico e não teve ocupação humana igualmente bela e pujante nos tempos posteriores. Ao promoverem apenas os tempos pré-históricos, sem dúvida aqui importantes e com marcas notáveis, os responsáveis pela intervenção no território não têm valorizado a presença romana, a rota dos castelos medievais, as vilas novas, para já não falarmos dos patrimónios geológicos e biológico e, com todos estes, o património humano que aqui resiste à desertificação desde o século XVI.

Ao criarem uma paisagem-ficção que esqueceu ou mesmo tentou anular as memórias civilizacionais posteriores, os pré-historiadores puseram-se por certo em bicos de pés, mas como é sabido, ninguém se aguenta muito tempo nesta posição. E esta é a maior fragilidade que o projecto tem tido. O turismo vive da diversidade e não do produto único, por mais interessante que ele seja.

O Museu do Côa e a sua actual exposição valem bem uma demorada visita. Mas a humanidade, mesmo em Foz Côa, tem produzido mais Arte desde então até aos dias de hoje, muita da qual muito mais interessante do que aquele molho de lenha que também lá vimos na “secção dos contemporâneos”. Belo, sem dúvida, mas ainda um prenúncio de futuro.

J. A. Gonçalves Guimarães
Arqueólogo que trabalhou vinte anos no Côa (1985 – 2004) em arqueologia tardo-romana e medieval; autor do projecto museológico do Museu de Sítio de Ervamoira.

Escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia) – breve nota informativa

Entre os dias 2 e 27 de Agosto decorreu a primeira intervenção arqueológica no Castelo de Crestuma patrocinada pelo Parque Biológico de Gaia, E.E.M., e levada a cabo por uma equipa profissional organizada pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, e com a colaboração da Gaianima, E.E.M./Solar Condes de Resende, na sequência de um protocolo assinado por estas instituições a 21 de Novembro de 2009.

Os trabalhos foram planeados e coordenados pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva e codirigidos pelos arqueólogos Filipe Pinto e Laura Sousa, com a administração e logística coordenada pela patrimonióloga Fátima Teixeira. A equipa de campo envolveu mais de duas dezenas de arqueólogos, assistentes de arqueólogo e estudantes.

Esta intervenção incidiu em duas frentes, com uma equipa no alto do Castelo, na cota mais alta do cabeço, e uma outra na praia de Favaios. No primeiro caso tratava-se de detectar possíveis vestígios de construções que justificassem o antigo topónimo castelo e no segundo detectar estruturas romanas relacionadas com os vestígios de superfície anteriormente detectados.

Desta primeira intervenção resultou uma grande quantidade e variedade de espólio arqueológico que virá a ser tratado nos próximos meses por diversos técnicos, nomeadamente pelos arqueólogos tarefeiros que prestam serviço no Solar Condes de Resende sob a orientação dos responsáveis pelo projecto, a que se seguirá o seu estudo científico pelos mais diversos especialistas nas áreas de arqueologia, geomorfologia, arqueobotânica e outras ciências.

Mesmo enquanto se aguardam os resultados destes estudos, fundamentais para a compreensão do sítio e para a orientação da prossecução dos trabalhos, a direcção do projecto pode já concluir o seguinte como resultado desta campanha:
- Confirma-se a grande extensão e valor do Castelo de Crestuma como uma estação arqueológica de grande importância no contexto local e regional cujo estudo, para além do seu interesse específico, poderá contribuir para aclarar alguns aspectos lacunares da História do Vale do Douro nos períodos tardo-romano, altimediévico e Idade Média plena (séculos V-XII).
- Confirma-se a existência de vestígios de construção no alto do Castelo de Crestuma que poderão ter a ver com as suas funções de controle do Rio Douro e da sua travessia naquelas épocas.
- Confirma-se a existência de vestígios arquitectónicos romanos de grande porte os quais poderão ter a ver com a uma estrutura portuária.
- Confirma-se a grande quantidade, variedade e qualidade do espólio arqueológico romano e medieval, incluindo nomeadamente cerâmica de construção, transporte, armazenagem e doméstica, abundantes fragmentos de recipientes em vidro, objectos metálicos e outras peças das referidas épocas nas sondagens e escavações efectuadas.
- Confirma-se a ocupação com construções em toda a área do monte do castelo e na sua imediata periferia.

Estes são os dados imediatos confirmados que a intervenção proporcionou, devendo os mesmos ser potenciados nos próximos meses pelos estudos agora iniciados.

Por outro lado, a grande importância científica e patrimonial dos achados efectuados nesta campanha justificam plenamente a continuidade dos trabalhos de campo no próximo ano, de acordo com a programação prevista.

J. A. Gonçalves Guimarães
António Manuel S. P. Silva

Eça & Dagoberto em Oeiras (Brasil)

O Instituto Barros de Ensino (IBENS) vai apresentar ao público em 25 de Setembro próximo o projecto “Chá com livros”, destinado a alunos e professores que queiram desenvolver o gosto pela leitura, literatura e produção textual. O tema para 2010 será “No Chá com Eça de Queirós, o Encontro com Dagoberto Carvalho J.or”.
Entre 1 e 4 de Dezembro um outro projecto promovido pela mesma instituição, denominado “De Poeta, Músico e Louco, em Oeiras, todos temos um pouco”, incidirá sobre aquele grande divulgador de Eça no Brasil, sendo depois os textos produzidos reunidos num Almanaque sobre a sua vida e obra.


Coimbra queirosiana

Recebemos para a biblioteca da Confraria três publicações sobre a Coimbra queirosiana graças à gentileza do seu autor, Dr. Carlos Santarém Andrade, ex-chefe de divisão de Biblioteca e Arquivo da Câmara Municipal de Coimbra, que em Novembro próximo será insigniado como confrade;

- Passear na Literatura, roteiro queirosiano de Coimbra;

- A Coimbra de Eça de Queirós. Coimbra. Minerva Editora, 1995;

- Eça Coimbra. Coimbra: Câmara Municipal, 2000

… os quais ficam à disposição dos que queiram aprofundar os seus conhecimentos sobre as relações do nosso patrono com a cidade do Mondego.

Tomar café ou não

Não queremos ir tomar café com: Michael Mullen general americano que quer ir matar iranianos; Fátima Felgueiras, por misturar a sua vida privada com a nossa vida pública; Naomi Campbell, porque não chega ser bela por fora; Isabel Alçada por mandar fechar uma escola classificada como de excelência mundial em Várzea de Abrunhais.

Vamos tomar café com: Thomas Nash pela convenção contra as bombas de fragmentação, obviamente não aprovada pelos EUA, China, Rússia e satélites; Muhsin Hassan Ali, vice-presidente do Museu de Bagdad que protegeu o que pôde da destruição provocadas pela invasão americana.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 24 – Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010
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redacção: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral;
colaboração: António Manuel Silva

domingo, 25 de julho de 2010

Eça & Outras

Eça e a velha Europa


Nesta crise mundial em que vivemos, e em que teremos de viver até que ela se dilua em qualquer outra crise que nem os bruxos nem os economistas conseguem futurar, a Europa, ou a ideia de uma nova Europa feliz da segunda metade do século XX, está a sair-se pouco airosa, entalada entre a economia asiática mais galopante do que os exércitos de Gengis-Kan e o contraponto estaduniense, que desde o plano Marshall realmente manda nas finanças europeias, através da Alemanha e da Inglaterra. Com estes pressupostos a velha Europa das pátrias tem procurado ter uma unidade difícil e intelectual que o cidadão comum ignora, despreza ou passa indiferente, pois continua a consumir coca-cola e filmes made in Wollywood que o levam a dificilmente acreditar que os americanos perderam a guerra do Vietname e, por outro lado, a pensar que os conflitos no Irão e no Afeganistão não são com ele mas com os marines dos USA.

Ao contrário também de que às vezes se tenta fazer crer, a ideia de uma Europa unida e federativa não nos foi imposta por Mário Soares, mas desde longo tempo ela existiu em algumas mentes portuguesas, por sinal de grande categoria intelectual, como foi o caso do Pe. Himalaia (1868-1933) e do Professor de Economia Francisco António Correia (1877-1981), que têm justamente por isso o direito de serem considerados “avós” da actual Comunidade Europeia.

Mas também sobre o velho continente escreveu Eça de Queirós no seu tempo o seguinte: «A situação na Europa, na realidade, nunca deixou de ser medonha…. A crise é a condição quase regular da Europa. E raro se tem apresentado momento em que um homem, derramando os olhos em redor, não julgue ver a máquina a desconjuntar-se, e tudo perecendo, mesmo o que é imperecível – a virtude e o espírito», nas Notas Contemporâneas.

Noutras suas crónicas, nas Cartas de Inglaterra, alerta que «A Europa, como nos campos de corrida em Inglaterra, devia estar coberta destes avisos em letras gordas: “Cautela com os salteadores!”. Em 1884 anunciava na sua Correspondência que :«Dentro em pouco, há-de haver um só tipo de homem, em toda a Europa, com o mesmo feitio moral, as mesmas frases, e o mesmo corte de barba». Mas não houve, pois ainda não ouvimos o «porreiro, pá!» de Sarkozy, e temos a impressão de que, se alguns políticos portugueses se confundem com deputados da Macedónia, outros há no mais puro estilo berlusconniano, calabrês ou napolitano, porque o genuíno espírito político nacional passa às vezes por ser o daquele dirigente partidário de Vila Real, com certeza candidato a deputado nas próximas eleições, que declarou às televisões que, se os transmontanos e altodurienses passarem a pagar impostos, a culpa é do governo, suponho que o actual e não o do tempo do Senhor Passos Manuel.

Mas, no fundo no fundo, temos todos a ideia de uma Europa de fantasia, que não existe, que é como o Pai Natal ou a sorte no Euromilhões, hipotética, mas que nos faz falta. Já o próprio Eça escreveu nas Notas Contemporâneas: «De todas as cinco partes do Mundo, a Europa, apesar de tão gasta, permanece incontestavelmente a mais interessante; e só ela, entre todos os continentes, constitui na realidade um continente geral de instrução e recreio». É bonito. Agora só temos é de convencer de tal os africanos, os americanos, os asiáticos e os australianos. E então soltarmo-nos num grande clamor: porreiro, pá!, traduzido em todas as línguas e dialectos europeus, que são, como é sabido, muito menos do que os da Nova Zelândia.

J. A. Gonçalves Guimarães

José Saramago em 1966, quando era poeta
Ainda Eça e Saramago

No Eça & Outras anterior abordamos a questão da possível influência de Eça de Queirós na obra de José Saramago. Pois ela existe, conforme o afirma a voz autorizada de A. Campos Matos num e-mail que nos enviou recentemente: «…entre Saramago e Eça há inúmeras afinidades. Saramago leu-o muito mais do que confessou e tem até um texto bastante bom sobre o Suave Milagre! Desde logo os une a sua posição perante os humilhados e oprimidos e a crença numa sociedade futura com uma organização radicalmente diferente da de hoje, organização semelhante àquela em que Saramago acreditava (ou acreditou) e que Eça claramente exprimiu, como sabe, num texto-crónica. Também um certo humor e uma certa ironia Saramago deve a Eça e outras coisas mais que se virão a estudar daqui por diante». Fica o assunto esclarecido.


Nova edição de A Relíquia

A Nova Delphi, uma editora sediada na Madeira, apresentou na Feira do Livro do Funchal, que decorreu no passado mês de Maio, uma nova edição de A Relíquia, apresentada por Anselmo Borges, padre, filósofo e professor na Universidade de Coimbra que foi o prefaciador desta nova edição, na qual evoca o humor corrosivo da obra e o inesperado cómico das situações descritas por Eça sobre a decadência moral, a religiosidade ridícula e hipócrita, o culto das aparências e a sexualidade mórbida com ares de pureza, considerando-a por isso perfeitamente actual nesta época de crise da Igreja e da sociedade, angustiadas pelos «tormentos do dinheiro» e outros pecados.

Um óptimo livro para as chamadas férias de Verão.

Património Religioso e Arte Sacra

A partir de Outubro próximo a Academia Eça de Queirós vai leccionar no Solar Condes de Resende, aos sábados à tarde, duas vezes por mês, entre as 15 e as 17 horas, um curso livre sobre Património Religioso e Arte Sacra, organizado por José Manuel Tedim e Gonçalves Guimarães e que conta com a colaboração de outros especialistas na matéria. Ao longo de seis meses e distribuídos por doze sessões serão abordados temas como: Arte religiosa no Antigo Egipto; Arte e Arqueologia Paleocristãs; Igrejas e outros edifícios religiosos; Pintura, ourivesaria, imaginaria religiosa e talha; Instituições religiosas de várias confissões; Arte religiosa popular; Arquivos e Património bibliográfico religioso; Santuários, festas e romarias e Arte religiosa contemporânea.

A frequência do curso implica inscrição previa e o pagamento de uma pequena propina, sendo passado certificado final das aulas frequentadas.

Exposição no Solar Condes de Resende
Exposições de Arte

No Auditório Municipal de Gondomar até 27 de Julho estará aberta ao público a exposição “Formas de continuidade no Espaço” do escultor Helder de Carvalho, que para além de usar o espaço como elemento escultórico figurativo, na boa antiga tradição greco-latina também usa a policromia nas suas obras, que oscilam entre o figurativo clássico e a mais ousada renovação estética.

No Solar Condes de Resende, até 5 de Setembro, está aberta a exposição “Famosos & Anónimos” do pintor major Simões Duarte, uma selecção dos seus retratos de gente famosa portuguesa e estrangeira e de anónimas figuras populares desde o nosso país até ao Afeganistão, obra de um rigoroso exercício oficinal.

Entretanto a 25 de Setembro, também nesta casa queirosiana, abrirá ao publico o Salon d’Automne, a exposição anual dos sócios e confrades na sua quinta edição, com obras de Alexandre Rufo, Amélia Traça, António Pinto, António Rua, Ariosto Madureira, Carolina Calheiros Lobo, Fernando Coimbra, Glória Nunes, Ilda Gomes, Rosalina Pinto, Rosário Sousa, Rui Soares e Simões Duarte.

Castelo de Crestuma

Entre 2 e 27 de Agosto o Gabinete de História, Arqueologia e Património dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana vai realizar escavações arqueológicas no Castelo de Crestuma, Vila Nova de Gaia, dirigidas pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva.

Esta acção decorre do protocolo assinado entre aquela entidade e o Parque Biológico de Gaia, EMM no capítulo da Confraria realizado em 21 de Novembro de 2009, tendo sido o local inaugurado a 13 de Setembro desse ano pelo presidente da Câmara Municipal, Dr. Luís Filipe Menezes, como Parque Botânico do Castelo/Sítio Arqueológico.

O local, reconhecido como tal desde os anos quarenta do século passado por Arlindo de Sousa e depois por Carlos Alberto Ferreira de Almeida, apresenta vestígios romanos e altimediévicos, havendo ainda vestígios de arqueologia industrial de fabricas de fundição que laboraram até ao século passado, mas cuja historia está igualmente por fazer. Nas suas imediações existem ainda vestígios de necrópoles antigas, estando por determinar a localização do mosteiro de Crestuma do século X-XI.

Nesta primeira intervenção científica no local procurar-se-á também entender a sua funcionalidade defensiva do que lhe determinou o topónimo, bem assim como aferir a quantidade de cerâmicas do Mediterrâneo oriental e outros vestígios longínquos já detectados, indicadores de um insuspeitado comércio fluvio-marítimo no período bizantino com a barra do Douro e as povoações ribeirinhas que a bordejam.

Nomeados & Distinguidos

Foram recentemente nomeados ou distinguidos os seguintes confrades queirosianos: Nelson Cardoso insigniado como Confrade de Honra da Confraria do Velhote, Valadares, Vila Nova de Gaia; Cancela Moura empossado como presidente do Rotary Club Gaia Sul e José Pereira Gonçalves como presidente do Rotary Club de Lisboa.

Tomar café ou não

Bem tentei colectivizar esta vontade de ir tomar café com gente simpática e recusar a hipótese de o fazer com gente que se porta mal, ou simplesmente não parece ser boa companhia, sem que isso queira significar qualquer outro juízo de valor legal, moral ou institucional, mas não fui longe na ideia. Ao princípio ainda chegavam uns e-mail, uns sms, uns telefonemas. Depois nem tanto, de modo que o critério passou a ser só o do responsável por este blogue. E é pois esse mesmo o que aí vai: não há nenhuma lei do mundo, que obrigue um cidadão a ir tomar café com quem não quer; pelo contrário quantas pessoas com quem o desejaríamos fazer, mas ficamo-nos pela vontade por motivos vários. E essa também é indeclinável.

Desta vez gostaria de ir tomar café com Júlio Cardoso, por continuar a representar-nos tão bem no palco; Guilherme Fariñas, pela sua luta pela liberdade; Joana Carneiro, a maestrina que recebeu o Prémio D. Antónia; Cavaco Silva, por ter vetado a lei das uniões de facto, um dos exemplos mais tristes de oportunismo social dos últimos anos; Sakined Ashtami, por, para já, ter escapado à lapidação.

Mas não gostaria de tomar café com Ana Merelo, porque os bons exemplos devem vir de cima; nem com Edgar Chale, médico especialista em braços engessados que não podem assinar; nem com Mahmoud Ahmadinejad, por governar um país onde, por sentença legal, ainda se matam homens e mulheres à pedrada.

Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 23 – Domingo, 25 de Julho de 2010
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