quinta-feira, 25 de abril de 2024

Eça & Outras


500 anos do nascimento de Luís de Camões;

100 anos do passamento de Teófilo Braga

Um abraço para Salgueiro Maia

         Pertenço à geração que desejou um 25 de Abril, que ansiou por um 25 de Abril, que tudo fez para que um 25 de Abril chegasse depressa, pois a vida estava má e o tempo passava sem as detenças da felicidade. Desde muito novos que fomos percebendo que Portugal não estava a ser o país glorioso que nos pintaram em azulejos na escola primária. E no liceu o país amargo existia em todas as disciplinas, com uns escritores aborrecidos, suicidas ou adiados de qualquer coisa na Literatura. E todos eles de compêndio, até descobrirmos que havia outros que se teriam de ler às escondidas por causa de uns matarruanos que tudo espiavam para aparafusarem as banalidades a ver se estavam conformes com um regulamento qualquer. Um país triste, desajustado, acinzentado, sem cores que lhe valessem. Essas chegavam aos poucos lá de fora, nas canções, nos filmes, nas notícias, na moda e nas ideias que tudo questionavam. Aos “heróis do mar” que já não havia - e muito menos o seria aquele velhote de uniforme branco que inaugurava bairros de pescadores - ouvia-se então o «nem deus, nem césar, nem tribuno» da Internacional ou o mais caseiro «mudam-se os tempos, mudam-se as vontades» de Camões. Era proibido falar abertamente no abandono da Índia Portuguesa e na Guerra do Ultramar, e em muitas outras coisas que nos entravam pelo quotidiano adentro pela porta das traseiras. E na Guerra do Vietnam, onde as carabinas dos camponeses iam derrotando o imperialismo estadunidense. E depois veio o Maio 68, Coimbra 69, as eleições da CDE e as gravatas da CEUD, e a obrigação de trocarmos as roupas da casa Porfirios pelas do Casão Militar. E de guerra em guerra, da do general do monóculo, passando pela do “Pantera cor-de-rosa” (“quase ganha”!) e pela dos “adeus até ao meu regresso” das Supico Pinto natalícias, lá nos fomos politizando, lendo avidamente o que de melhor circulava clandestinamente de mão em mão. Para saber do mundo, muito ficamos a dever aos “Cadernos D. Quixote”; para saber de nós aos cadernos de poesia da Editorial Presença, ao suplemento juvenil do Diário de Lisboa, a um ou outro livreco artesanal com textos batidos à máquina e reproduzidos a duplicador. E às Edições Afrodite, que o sexo era quase tão tabu quanto a política nacional, problemático mesmo quando abordado coloquialmente. E na larga estrada da vida lá estava aquele enorme muro avassalador, a obrigatoriedade de participarmos numa guerra colonial com a qual não concordávamos e que ninguém sabia quando e como terminaria, nem com que consequências para as colónias, a nossa geração, ou para as futuras.

            Por tudo isto, e o muito mais que veio a seguir, quase todos os rapazes feitos homens da minha geração estão agradecidos a Salgueiro Maio. Quase todos, porque alguns ainda não perceberam, e outros nunca perceberão. Deixá-los lá, pois não foram, nem nunca irão, nas colunas libertadoras dos terreiros dos paços que foram, ou serão necessárias, para alterar «o estado a que isto chegou».

Conheci pessoalmente Salgueiro Maia e desde então tenho-o como Amigo, pois era assim que me tratava quando nos encontrávamos e nas cartas que me escreveu. Mas não foi no serviço militar, mas sim nas atividades da Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, onde chegamos a ser dois dos seus quatro vice-presidentes territoriais, eu pelo Norte, ele pelo Centro. Era uma outra das suas facetas, até por formação académica entretanto adquirida, o estudo, a preservação, a divulgação, a usufruição do Património Histórico, especialmente o militar. Conhecemo-nos no Segundo Congresso sobre Monumentos Militares Portugueses, que decorreu em Lisboa entre 14 e 19 de junho de 1983, e depois em várias outras realizações idênticas em cuja organização participou, algumas em parceria com a Asociación Española de Amigos de los Castillos sobre as fortificações de fronteira no Alentejo/ Estremadura espanhola e na raia Minho/ Galiza. Numa destas confrontamo-nos com a ridícula ação do diretor de um serviço público português e do seu séquito familiar que se infiltraram no encontro sem estarem inscritos nem, quando descobertos, quererem pagar a inscrição e o alojamento, prática habitual que usavam junto das autarquias portuguesas. O problema agudizou-se na Galiza, onde não houve outra solução senão expulsá-los publicamente de um almoço onde se tinham precocemente amesendado. Enfim o Património também tinha muitos destes parasitas bacocos do “antigamente”. Para além dos castelos, tínhamos outros gostos comuns, como os cavalos e a História Militar e bem me lembro de ter estado uma noite inteira, com os outros congressistas, a ouvi-lo contar a sua versão dos acontecimentos do 25 de Abril no Quarto Congresso que decorreu em Santarém e noutras cidades e vilas da região, com a vivacidade e o sentido de humor que todos lhe reconheciam. Numa outra das minhas visitas ao Regimento de Cavalaria, descreveu-me um acontecimento verdadeiramente humorístico relacionado com o suposto túmulo do vice-rei da Índia, D. Francisco de Almeida, que, em tempos passados, perante a indignação de um memorialista que tal repudiou no periódico local, tinha sido posto a servir de bebedouro dos cavalos. Apostado em organizar o Museu da Arma de Cavalaria e escrever a respetiva história, para salvar a honra do regimento, meteu-se a procurar a histórica peça, acabando por a levar para o museu. Com muitos outros pormenores hilariantes e sendo ele o seu protagonista, pedi-lhe que escrevesse o relato do achado. Já não teve tempo para tal. Mas mandou-me uma carta, que guardo, com a descrição do essencial e uma fotografia do túmulo, para que eu o fizesse. Do homem afetuoso ficaram o testemunho de sua mulher Natércia Maia, de seus filhos, e de todos os seus inúmeros e incondicionais amigos, muitos dos quais fundaram uma associação que tem o seu nome.

Já no século XIX, em plena indignação mapacorderrosista, Eça de Queirós escreveu «Para que temos colónias? E ai de nós que não as teremos muito tempo! Bem cedo elas nos serão expropriadas por utilidade humana. A Europa pensará que imensos territórios, pelo facto lamentável de pertencerem a Portugal, não devem ficar perpetuamente sequestrados do movimento da civilização; e que tirar as colónias à nossa inércia nacional, é conquistá-las para o progresso universal. Nós temo-las aferrolhadas no nosso cárcere privado de miséria. Não tardará que na Europa se pense em as libertar. Para evitar esse dia de humilhação sejamos vilmente agiotas, como compete a uma nação do século XIX – e vendamos as colónias» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre). A minha geração leu Eça, pediu-lhe desculpa pelas distrações e pelo atraso e foi encerrar a Última Guerra Colonial Portuguesa. Ficaram-nos por aí os castelos d’aquém e d’além mar a recordar sonhos, valentias, desgostos e desânimos. E novos países a plantarem embondeiros que continuarão a crescer. Um abraço, Fernando Salgueiro Maia.

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril

De há tempos a esta parte decorrem um pouco por todo o lado um leque muito variado de manifestações para lembrar e comemorar os 50 anos passados sobre a data e as consequências do 25 de Abril de 1974, as quais continuarão nos próximos meses até à data da aprovação da Constituição da República Portuguesa saída da Revolução. A associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana vai participar em diversas dessas realizações e muitos dos seus associados estarão presentes, a título pessoal ou institucional, noutras tantas.

Assim, em Vila Nova de Gaia, a Câmara Municipal realizou sessões evocativas em colaboração com as Juntas de Freguesia em todas elas tendo galardoado diversos cidadãos com uma placa evocativa da autoria do escultor Paulo Neves.

            No próximo dia 25, a partir das 16 horas, vai realizar-se um cortejo cívico entre o Jardim do Morro e os Paços do Concelho com a presença de instituições locais, entre elas a nossa associação representada por vários confrades. No mesmo dia o historiador Licínio Santos, dos corpos diretivos da ASCR-CQ e da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia proferirá uma palestra sobre a efeméride nas instalações do Centro Cultural e Recreativo do Lugar de Gaia.


Na Associação dos Arqueólogos Portugueses

Entretanto no passado dia 20 de abril decorreu em Lisboa na sede da Associação dos Arqueólogos Portugueses o colóquio “Arqueologia em Portugal – antes e depois do 25 de Abril de 1974” organizado por esta organização profissional, tendo aí sido apresentada a reedição de um documento intitulado «Primeiro Plenário dos Arqueólogos Portugueses – 29 de Junho de 1974». Nos diversos painéis estiveram alguns dos maiores nomes da Arqueologia nacional, entre os quais António Manuel S. P. Silva, coordenador do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR – Confraria Queirosiana e da Gaya. Revista de História, Arqueologia e Património, que falou sobre «Que futuro para a Arqueologia Portuguesa?»

Ontem, dia 24 de abril pelas 15 horas, na sede da Academia Portuguesa da História no Palácio dos Lilases na Alameda das Linhas de Torres em Lisboa, Ricardo Charters d’ Azevedo, confrade queirosianos apresentou a conferência «De 25 a 25 - do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975»

            No próximo dia 26, sexta-feira, na habitual palestra das últimas quinta-feiras do mês do Solar Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães vai apresentar uma conferência-concerto sobre a origem, significado e evolução de «Hinos Revolucionários dos séculos XVIII ao XX». A parte da execução musical estará a cargo do agrupamento Eça Bem Dito dirigido pela pianista Maria João Ventura.

Tendo inicialmente previsto fazer uma palestra intitulada «As minhas memórias de Salgueiro Maia», devido a várias solicitações para apresentar essas mesmas recordações em vários outros contextos, nomeadamente numa entrevista ao Jornal de Notícias publicada hoje dia 25 de Abril, o autor elaborou o texto que abre esta página, também publicado no jornal As Artes entre As Letras, e vai desenvolvê-lo para publicação no próximo número da Revista de Portugal a sair em novembro.

 

Receção do espólio de J. Rentes de Carvalho

No passado dia 04 de abril, pelas16 horas, a associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, organizou uma sessão de receção deste espólio no salão nobre do Solar Condes de Resende, à qual estiveram aí presentes, ou por videoconferência, para além do doador do espólio, a vereadora do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural, Eng.ª Paula Carvalhal, em representação do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o Eng.º Mário Duarte, diretor municipal para a Cidadania, a Dr.ª Maria José Fernandes, diretora do Departamento de Cultura e Juventude e o Mestre João Fernandes, responsável pelo Solar Condes de Resende, vários membros dos corpos gerentes e associados da ASCR-CQ e outros amigos e admiradores do escritor. No início da sessão o presidente da direção, Prof. Doutor José Manuel Tedim referiu-se às diversas doações feitas à associação desde 2004 e que constituem já um interessante espólio documental, bibliográfico e artístico que tem vindo a ser divulgado e valorizado.

O presente acervo, constituído por cerca de 200 caixas vindas de Amsterdam em dois furgões, chegou ao Solar Condes de Resende no passado dia 13 de março, em cumprimento da «Declaração de cedência de espólio pessoal» assinada a 24 de agosto de 2024 e pela qual a referida associação passou a ser proprietária da sua totalidade, salvo disposição contrária prevista em lei aplicável. Comprometeu-se a mesma a manter este espólio como um todo, devidamente inventariado e disponível para divulgação e estudos nas melhores condições e, sempre que solicitada, dele dará conta ao doador ou aos seus representantes legais. Para além da sua exposição parcelar no Solar Condes de Resende, a associação está a concorrer a formas de financiamento para proceder à sua inventariação arquivística e disponibilização digital, para além da publicação de um catálogo exaustivo.

Para explicar as relações da associação com o escritor e a sua obra desde longa data, J. A. Gonçalves Guimarães e Maria de Fátima Teixeira apresentaram um power point com fotografias e documentos desde os anos sessenta do século passado, a que se seguiu a intervenção de vários dos presentes e em particular a do jornalista Mário Augusto igualmente amigo do escritor e autor da mais recente reportagem realizada na Holanda para a RTP sobe a sua atividade. A vereadora Eng.ª Paula Carvalhal, encerrou a sessão salientando a importância da vinda deste espólio para Vila Nova de Gaia e a necessidade de serem encontrados apoios para o seu tratamento arquivístico. Seguiu um Porto de Honra com o Porto 20 Anos Confraria Queirosiana.

Curso sobre História Local e Regional

            Aproxima-se do seu término o curso livre «40 anos depois: História Local e Regional», organizado pela Academia Eça de Queirós, grupo de trabalho da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, com o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e a certificação do Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia Nascente. Assim, no passado dia 6 de abril o Professor Doutor Pedro Bacelar de Vasconcelos, das universidades de Coimbra e do Minho, falou sobre o tema «De súbditos a cidadãos» e a 20 de abril o Prof. Doutor Nuno Resende, da FLUP, sobre «Regionalismos e internacionalismos». A aula de sábado, dia 27 de abril, foi entretanto mudada pata o dia 4 de maio, na qual o Prof. Doutor Adrião Cunha, falará sobre «Reformas e revoluções do século XX».

 fotografia de Hélder de Carvalho

Estátua do Professor Doutor João Marques

            O Professor Doutor João Francisco Marques, antigo catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o último sobrevivente a tertúlia de José Régio, era também uma figura habitual numa esplanada da Póvoa de Varzim onde conversava com uma simpatia muito própria com todos aqueles que o procuravam. Entre muitas outras distinções, em 1995 recebeu a Medalha do Reconhecimento Poveiro e em 2008 foi feito confrade queirosiano de honra, tendo falecido a 6 de março de 2015. Desde o passado dia 7 de abril eu a sua figura ficou perpetuada no local que frequentou através da sua estátua em bronze sentada à mesa com uma outra cadeira disponível para todos os que quiserem continuar o diálogo. A obra de Arte é da autoria do escultor Hélder de Carvalho.

 O júri na Universidade Complutense de Madrid

Provas de Doutoramento

            No passado dia 12 de abril na Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade Complutense de Madrid, a arquivista Alexandra Maria da Silva Vidal apresentou a sua tese «O Arquivo da Igreja Lusitana de 1880 a 1980 (Comunhão Anglicana de Portugal)». Do júri fizeram parte os professores Doutor José António Martin Moreno Afonso, do Instituto de Educação da Universidade do Minho e Doutor António Manuel S. P. Silva, responsável por aquele arquivo, ambos membros do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ.

Espaços do Barroco

            Nos passados dias 19 e 20 de abril decorreu no Centro Interpretativo do Barroco em Arcos de Valdevez o colóquio “Espaços do Barroco”, cuja lição de abertura foi proferida pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim, da Universidade Portucalense Infante D. Henrique e do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ, sob o tema «A Arte Efémera na metamorfose dos espaços da Festa Barroca em Portugal»,

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 188, quinta-feira, 25 de Abril de 2024; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

 


segunda-feira, 25 de março de 2024

 

Da Cultura a nível local

        No passado dia 1 de março, e como habitualmente desde há 34 anos, participei no Fórum Avintense, acontecimento notável à escala local, resultante do empenhamento de algumas coletividades, mas desde o início assumido pela Junta de Freguesia. Nem no restante Município de Vila Nova de Gaia, nem mesmo no País, haverá iniciativas semelhantes com tamanha persistência, não obstante aqui terem começado a ser promovidas logo em 1983 com a criação, por professores e alunos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, do então Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Lembro-me ainda que o historiador Fernando Peixoto, quando foi presidente da Junta de Freguesia de Santa Marinha, no ano de 1999 promoveu algo semelhante de que se publicaram as respetivas atas, mas que da segunda edição, tendo entretanto aquela autarquia mudado de presidente e de orientação política, já o mesmo não aconteceu. Em Mafamude, em tempos mais recentes, uma coletividade, em colaboração com a respetiva Junta de Freguesia, também organizou um colóquio sobre a História Local, com o contributo dos investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, mas cujas prometidas atas jamais foram publicadas, sendo as comunicações dispersas por várias publicações. E nada mais. No que diz respeito a este Fórum Avintense as atas têm vindo a ser publicadas, tendo sido agora lançado o livrinho referente às apresentadas em 2015.

            Não se trata de um encontro de profissionais de nenhuma das áreas do saber, mas sim de cidadãos que, independentemente da sua formação de base ou profissão, entendem dever apresentar ali os seus conhecimentos, reflexões, opiniões ou anseios sobre diversos aspetos da vida local do passado e do presente, e mesmo os quereres de futuro, em generoso convívio de testemunhos e diálogos, mesmo quando eles estão à partida inquinados por um exacerbado bairrismo muito próprio das comunidades eivadas de desnecessários autoelogios, como é o caso de Avintes, terra da famosa broa, de um não menos famoso rosé e de outros mimos enogastronómicos, para além de escultores e outros artistas, de Adriano Correia de Oliveira, do Teatro amador e do novelista José Vaz, entre muitas outras referências. As coisas são o que são e valem o que valem e certamente muito para os naturais e, quantas vezes, também para o mundo.

            Este ano o mote do encontro foi «Avintes: o antes e o depois do 25 de Abril de 1974», empenhada que está a sociedade portuguesa em refletir sobre o meio século que já passou sobre aquela transformadora data. Para além de vários memorialistas locais, alguns historiadores profissionais quiseram também estar presentes, nomeadamente João Luís Fernandes do Solar Condes de Resende, que apresentou um estudo de História da Arte sobre uma tela pintada com uma pouco habitual Ceia de Cristo do século XVII ou princípios do seguinte, encontrada nas obras de recuperação da Quinta da Agraceira, e eu próprio que apresentei a comunicação «A Cultura a nível local, antes, após o 25 de Abril e hoje. Conceitos, instituições e agentes», assunto difícil de sintetizar num quarto de hora, mas de que ficou a metodologia para continuar a apresentá-lo e a debatê-lo noutros espaços com mais vagares, que o assunto merece uma reflexão profunda e eu próprio fiquei com uma desiludida constatação quando me pus a trabalhar os dados: a Cultura em geral, e mormente a nível local, pela voz e convicção dos partidos políticos, de um modo geral, ainda não saiu do infantário, ainda não evoluiu do joguinho de habilidades, do fait divers, da coleção de inutilidades, da literatice, do bonito anel artístico para por no dedo das conveniências. Para a maior parte deles, a Cultura são os “artistas”, as “coletividades”, as velhinhas a tocar cavaquinho, os jovenzinhos a arremedar os festivais da Tv, os “amadores”, o senhor que faz sonetos e o que toca sonatas, ou sonoridades várias, sonolências diversas e diversas banalidades. Desprezam o trabalho e as produções dos profissionais e acham que Cultura é inspiração ou mesmo “dom com que se nasce”, e sempre coisa muito diferente da Ciência, aquela chatice vária que é preciso estudar. Para tal analisar recorri aos textos dos manifestos políticos dos partidos candidatos às autarquias para o mandato 2021-2025, mas nem sempre tive sorte, pois embora o mandato ainda decorra, já nem todos estão disponíveis na Internet. Mas mandei um e-mail a todos os partidos a solicitá-los e alguns responderam afirmativamente. Outros não, nada. Para colmatar essa ausência em relação aos partidos dos quais não consegui aquele manifesto, recorri aos textos dos programas eleitorais para as Legislativas de 2022. Afinal o que eu procurava era simples e universal: que conceito ou conceitos tinha cada partido de Cultura; quais as instituições que conhecia e qual a opinião dobre o seu funcionamento; quais os agentes que considerava para o desenvolvimento do setor, a nível de profissionais, semi-profissionais e amadores, e da sua relação com os diferentes públicos.

Para haver o menos equívocos possíveis num setor que muito a tal se presta, comecei por apresentar o conceito de Cultura tirado da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (VIII: 222 e 224) dirigida por António Sérgio, como sendo um «exercício, aperfeiçoamento das faculdades intelectuais… Conjunto de conhecimentos de alguém; instrução. Vida intelectual, ou pensamento crítico e reflexivo do indivíduo, de uma época ou de um país», advertindo que este conceito não era o único. Depois apresentei uma elencagem das diversas áreas da Cultura, mas temendo que alguém a quisesse continuar a reduzir às Artes, à Literatura e pouco mais, “pondo fora” as Ciências, socorri-me das atas do colóquio «A Ciência Como Cultura» realizado em Lisboa em 1992 sob a égide do Doutor Mário Soares, então Presidente da República, cujas lições permanecem atuais. Depois falei nas diversas instituições existentes antes daquela data e das criadas já em regime democrático e do facto de Vila Nova de Gaia não ter querido ter no seu território uma universidade privada nos anos oitenta do século passado. Não me ficou quase tempo nenhum para analisar o que sobre tudo isto pensam (ou não pensam…) os partidos políticos candidatos à administração autárquica e por isso de tal falarei noutra oportunidade. Mesmo assim concluí: «A Cultura é para todos. Todos nela somos bem-vindos. Mas a Cultura, como as outras áreas do saber humano, também tem profissionais. E, como também acontece noutras áreas do saber, sobre Cultura convém ouvir os profissionais, os que para tal estudaram, dela sabem os conceitos, trabalham nas instituições que a produzem e são os seus principais agentes».

            Não, por agora não concluirei que «a ciência realmente só tem alcançado tornar mais intensa e forte uma certeza – a velha certeza socrática da nossa irreparável ignorância. De cada vez sabemos mais – que não sabemos nada» (Eça de Queirós, Notas Contemporâneas, O bock ideal). Nós, os profissionais da Cultura, já sabemos algumas coisas úteis e belas, e por isso é bom que nos distingam dos trampolineiros.

 

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

 


                                                A equipa que transportou e recebeu o espólio; fotografia de Ana Neves

Espólio do escritor José Rentes de Carvalho

         No passado dia 13 de março, vindo de Amsterdam em dois furgões, chegou à sede da associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, no Solar Condes de Resende, Vila Nova de Gaia, o espólio do escritor José Rentes de Carvalho por este oferecido à associação através de «Declaração de cedência de espólio pessoal» assinada a 24 de agosto de 2024 e pela qual esta passa a ser proprietária da totalidade do dito espólio, salvo disposição contrária prevista em lei aplicável. Comprometeu-se a mesma a mantê-lo como um todo, devidamente inventariado e disponível para investigação e divulgação nas melhores condições, mencionando sempre a sua proveniência, tendo como curadores do mesmo Joaquim António Gonçalves Guimarães, doutor em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e Maria de Fátima Teixeira, mestre em História Contemporânea pela mesma faculdade, enquanto estiverem ao serviço da associação. Para além da sua divulgação e utilização públicas, sempre que solicitada a entidade beneficiária dará conta do seu estado, localização e utilização ao doador ou aos seus representantes legais. Para além da sua exposição parcelar no Solar Condes de Resende, a associação vai concorrer a formas de mecenato para proceder à inventariação arquivística e disponibilização digital, para além da publicação de um catálogo exaustivo.

            No próximo dia 4 de abril a associação vai organizar uma sessão simbólica de receção deste espólio no Solar Condes de Resende, que contará com a presença da vereadora do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural, Eng.ª Paula Carvalhal, em representação do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, além do responsável pelo serviço, Dr. João Fernandes, membros dos corpos gerentes, associados, amigos e admiradores do escritor.

            Entretanto já em 22 de dezembro passado a Câmara Municipal de Mogadouro tinha aprovado um voto de louvor ao escritor por ter sido considerado “Personalidade do Norte 2023” pela CCDR-Norte, estando prevista a inauguração de uma sua estátua nesta localidade em 31 de maio próximo.

 

Assembleia geral da ASCR-CQ



                                    A mesa a dirigir os trabalhos da assembleia geral; fotografia de Fátima Teixeira

No passado dia 21 de março realizou-se no Solar Condes de Resende a assembleia geral ordinária desta associação sob a orientação da mesa composta pelo presidente Sr. César Oliveira, ladeado pelos secretários, Prof. Doutor Nuno Resende e Dr. Henrique Guedes, a qual aprovou o relatório e contas referentes a 2023, apresentados respetivamente pelo presidente da direção Prof. Doutor José Manuel Tedim e pelo secretário Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, tendo as contas sido apresentadas pelo tesoureiro Dr. Manuel Moreira e o parecer do conselho fiscal pelo seu presidente Dr. Manuel Filipe Dias de Sousa. A assembleia aprovou ainda um voto de louvor à direção pelo trabalho desenvolvido no ano transato.

 

A ASCR-CQ em Lisboa

Entre os dias 14 e 17 de março passado o secretário da direção esteve em Lisboa em contato com várias entidades e associados que têm a ver com diversos programas em desenvolvimento pela associação. Assim, no dia 15, logo pela manhã, visitou o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa em Campolide, onde foi apresentar o programa do próximo curso que decorrerá a partir de outubro no Solar Condes de Resende sobre as circunstâncias do 25 de Abril, as suas origens, desenvolvimentos e aspetos mais particulares a serem tratados por historiadores daquele Instituto que sobre tal têm produzido investigação.

Nesse mesmo dia, às 21 horas, J. A. Gonçalves Guimarães foi recebido na Sala de Convívio do Lote 398, em Olivais, bem perto do Agrupamento de Escolas Eça de Queirós, num clube de condomínio fundado em 1976 e presentemente dirigido pelo Dr. Fernando Murta Rebelo e pela Dr.ª Ana Cristina Henriques, que ali desenvolvem um incidente programa cultural, conforme o atestam muitas fotografias, diplomas, livros e outros objetos expostos na sala e o descreve uma interessante publicação que conta a História desta associação. Com uma sala cheia, tendo na assistência os confrades Dr. Manuel Nogueira e Dr. César Veloso, e também a Dr.ª Rute Sofia Florêncio Lima de Jesus, presidente da Junta de Freguesia de Olivais e outros elementos da autarquia local, que assistiram à conferência, o orador falou sobre «Roteiros Queirosianos em Portugal e no estrangeiro», seguida de animado debate.

No dia seguinte, 16 de março, J. A. Gonçalves Guimarães e Manuel Nogueira representaram a ASCR-CQ na assembleia geral e encontro nacional de grupos de amigos filiados na Federação Portuguesa dos Amigos dos Museus de Portugal (FAMP), que decorreu no Palácio Fronteira e Alorna, com a presença do presidente da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, Dom António Maria Infante da Câmara Mascarenhas, do vice-presidente, Dr. Joel Moedas Miguel, da presidente da sua associação de amigos, Dr.ª Maria Berta Marques Bustorff da Silva, da presidente da direção da FAMP, Dr.ª Maria do Rosário Alvellos e do Prof. Doutor Mário Antas, representante da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E.. Na assembleia geral para aprovação do relatório e contas foram ainda referidas as relações da FAMP com o Conselho Nacional de Cultura, a Museus e Monumentos de Portugal, de cujo conselho consultivo faz parte, o Instituto do Património Cultural, a WFFW – World Federation of Friendes of Museums, que instituiu o 2.º domingo de outubro como o Dia Europeu dos Grupos de Amigos, a realização de encontros de jovens, e as relações com o ICOM e a APOM.

Depois de uma visita ao Palácio e do almoço na sala de jantar do mesmo, decorreu na Sala das Batalhas o encontro das associações presentes, com intervenções dos representantes dos grupos de amigos da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, Museu do Ar, Museu Nacional do Azulejo, Monserrate, Museu Nacional dos Coches, Museu Nacional Machado de Castro e Solar Condes de Resende. Sobre esta última instituição, fechou o encontro a comunicação a cargo do secretário da ASCR-CQ que ali explicou o seu funcionamento e propósitos.

No dia seguinte, e antes de regressar a Vila Nova de Gaia, o secretário teve ainda oportunidade de reunir com o vice-presidente da direção, Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, em vésperas deste partir para uma nova visita guiada ao roteiro queirosiano do Egito, sobre vários aspetos da vida da associação e do número da Revista de Portugal para o presente ano.

 

Curso sobre História Local e Regional



                    O Coronel Velludo (Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho): fotografia de Maria de Fátima Teixeira


Prosseguem no Solar Condes de Resende as aulas, presenciais e por videoconferência, do curso livre «40 anos depois: História Local e Regional» evocativo das 1.as Jornadas de História Local e Regional realizadas pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia em 1983. No sábado 02 de março o Prof. Doutor Barros Cardoso da FLUP falou «Nas origens das ideias iluministas – “luzes e sombras”» que estiveram no dealbar da Europa e do Portugal contemporâneos, e no sábado 16 de março o Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho, do IPP, apresentou uma aula sobre o tema «Entre Corcundas e Malhados», na forma de stand up History, um conceito utilizado no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, mas pouco habitual entre nós, sob «a forma de palestra encenada e narrativa, usando uma imersão em primeira pessoa de alguém, real ou ficcionado, é um recurso de partilha de conhecimentos», neste caso sobre a Guerra Civil de 1828-1834. O próprio “Coronel Velludo” (o professor) e o uniforme com que se apresentou não são ficcionados, mas sim fruto de pesquisa e confeção de uma réplica, o mais cuidadosa possível, sobre um Oficial do Batalhão do Trem do Ouro, formado durante o Cerco do Porto a partir de efetivos do Batalhão de Artilharia Nacional, integrado no Exército Liberal.

No sábado 23 de março o Prof. Doutor José António Oliveira, também do IPP, falou sobre «Constitucionalismo oitocentista», sendo esta aula também complementar do curso n.º 27 sobre «Revoluções e Constituições», comemorativo dos 200 anos da Revolução de 1820 e lecionado em 2019/ 2020, o qual foi interrompido devido à pandemia quando faltavam duas aulas para acabar, e que agora assim se completa.


Palestras

Prosseguem no Solar Condes de Resende as palestras das últimas quinta-feira do mês, presenciais e por videoconferência. Assim no próximo dia 28 de março, o Dr. João Fernandes, historiador da Arte vai falar sobre «Uma Última Ceia da Quinta da Agraceira, Avintes». Como o dia 25 de abril é feriado em que a ASCR-CQ estará presente em diversas atividades comemorativas dos 50 anos dos acontecimentos que tornaram célebre a data, a palestra habitual decorrerá no dia 26 de abril, sexta-feira, sobre o tema «As minhas memórias de Salgueiro Maia» por J. A. Gonçalves Guimarães.

 

500 anos de Camões



A Matriz Portuguesa – Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento vai realizar um vasto programa de celebração do 500.º Aniversário do nascimento de Luís de Camões, entre as quais a Exposição Universal da Matriz Portuguesa, como símbolo da vocação universalista da língua e da cultura portuguesas. A comissão executiva tem como comissário geral o Doutor João Micael e como comissária-geral adjunta a Prof.ª Doutora Annabela Rita da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo já aderido ao projeto, entre várias outras instituições e personalidades, o Grémio Literário, Lisboa, o jornal As Artes Entre As Letras, a Confraria Queirosiana, passando o seu presidente da direção, Prof. Douto José Manuel Tedim, a fazer parte da comissão de honra daquela exposição, e o Professor Doutor Guilherme d’ Oliveira Martins, da administração da Fundação Calouste Gulbenkian, que fará a conferência de abertura naquela primeira instituição no dia 4de junho pelas 18 horas.

XI Festeatro

         Com uma Gala no Auditório Municipal de Gaia, encerrou no passado dia 23 de março o XI Festival de Teatro Amador de Vila Nova de Gaia 2024, organizado pela Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia com o apoio do Município, o qual decorreu desde o dia 16 de fevereiro com atuações de 10 grupos de Teatro. Na ocasião foram agraciados pela organização todos os grupos participantes e homenageado o ator Fernando “Sousa” Moura, decano dos atores gaienses e elemento do Mérito Dramático Avintense. Entre muitos representantes das diversas coletividades e instituições locais, estiveram presentes a Eng.ª Paula Carvalhal pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, o Dr. Manuel Filipe, dos Auditórios Municipais de Gaia, e pela associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana o secretário da direção J. A. Gonçalves Guimarães e a Dr.ª Maria de Fátima Teixeira.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 187, segunda-feira, 25 de março de 2024; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Eça & Outras

O Livro dos Mortos do Antigo Egito

Para este ano de 2024 está prevista a edição monumental do livro Rumo à Eternidade - o Livro dos Mortos do Antigo Egito, muito a propósito dedicado «a todos os que tendo sofrido a angustiante fase da pandemia não sobreviveram e partiram rumo à eternidade» da autoria do conhecido egiptólogo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, que subscreve a introdução, tradução, comentários e notas desta edição. Doutorado em Letras (História e Cultura Pré-clássica) pela Universidade de Lisboa, onde fez a agregação em 2008, também aí se tinha licenciado em História, formação que depois complementou com um estágio de pós-graduação em Egiptologia na Faculdade de Arqueologia da Universidade do Cairo. Tendo lecionado várias cadeiras da área de História e Cultura Pré-clássica e orientado teses de mestrado e doutoramento em História Antiga (na área de Egiptologia), é atualmente professor jubilado e investigador emérito do Centro de História daquela primeira universidade.

Tem participado regularmente em congressos e outros encontros científicos em Lisboa, Barcelona, Huambo (Angola), Cairo, Cambridge, Grenoble, Leiden, Haia, Budapeste, Moscovo, Quebeque, Madrid, Horssen (Holanda), Tenerife (Canárias) e Cuenca. É atualmente presidente do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia e da Associação de Amizade Portugal-Egipto, vice-presidente dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana (cuja Revista de Portugal dirige) e da Associação Portuguesa de Orientalismo, é também membro da Academia Portuguesa da História e da Associação Portuguesa de Escritores, Associação dos Arqueólogos Portugueses, Associação Portuguesa de Museologia, Sociedade de Geografia de Lisboa, Associação Internacional de Paremiologia, Associação Internacional de Egiptólogos, Conselho Internacional dos Museus e Comité Internacional para a Egiptologia (CIPEG),

Publicou o Dicionário do Antigo Egipto e A Escrita das Escritas, e é colaborador para revisões científicas de textos egiptológicos para várias editoras. Foi comissário científico da exposição de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia (1993) e da exposição do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (2011) e assessor científico de várias outras exposições, tendo procedido ao estudo das coleções egípcias públicas e privadas existentes em Portugal, estando parte desses estudos já publicada, como é o caso do núcleo da Coleção Marciano Azuaga que se encontra no Solar Condes de Resende. Conduz regularmente viagens e visitas de estudo ao Egito, Próximo Oriente e Meso-América e tem regido diversos cursos sobre arte, religião, literatura, topografia cultural e escrita hieroglífica.

Além de mais de trezentos artigos de temática egiptológica e queirosiana, entradas de dicionários e recensões em revistas de especialidade e de divulgação, publicou dezassete livros, entre os quais Eça de Queirós e o Egipto Faraónico; Imagens do Egito Queirosiano. Recordações da Jornada Oriental de Eça de Queirós e o Conde de Resende em 1869; As Pirâmides do Império Antigo; A Coleção Egípcia da Universidade do Porto; Os Grandes Faraós do Antigo Egito; Erotismo e Sexualidade no Antigo Egito; Arte Egípcia. Coleção Calouste Gulbenkian, e outros títulos esgotados ou já com reedições.

Havendo já em Portugal e no mundo diversas edições e glosas a este texto fundamental para se compreender o devir da civilização mediterrânica e de algumas das crenças e religiões posteriores até aos nossos dias, algumas delas algo distantes ou pouco consentâneas com os textos originais, as principais são aqui criteriosamente analisadas e comentadas, quer para os profissionais da matéria, quer para o público não iniciado. Edição profusamente ilustrada, apresenta antes da transcrição do texto egípcio os seguintes capítulos: «As origens do “Livro dos Mortos”»; «Os proprietários dos papiros»; «A estruturação do “Livro dos Mortos”»; «Os capítulos fundamentais da coletânea»; «O ka, o ba e o akh no “Livro dos Mortos”»; «Outros livros importantes do Além»; «Os primeiros e os novos estudos»; «Os textos funerários na história do antigo Egito» e «Normas de apresentação», como, por exemplo, sobre os nomes dos muitos locais da geografia aqui geralmente mantidos nas formas muito divulgadas oriundas da tradição grega. São também indicadas «as fontes e os recursos utilizados para apresentar cada um dos capítulos, referindo fontes de inspiração mais antigas como parágrafos dos “Textos das Pirâmides” ou fórmulas dos “Textos dos Sarcófagos”, sempre que elas existam, e depois os exemplares de papiros onde o capítulo consta, com a indicação do local onde o documento se encontra exposto ou guardado. Também podem ser mencionados outros suportes ou sítios onde existam fórmulas ou excertos, como por vezes ocorre em túmulos, blocos funerários inscritos, sarcófagos ou faixas de linho utilizadas para envolver as múmias» e, como é de norma, os apelidos dos vários autores consultados e as obras publicadas, com as páginas concernentes, antecedendo os comentários e as notas.

O autor desta edição teve em conta o conforto oftalmológico dos seus leitores e, por isso o texto vem impresso em corpo 12, os comentários seguem em corpo 11, e depois as notas no corpo 10. Nos seus 192 capítulos o leitor contemporâneo pode acompanhar os seus longínquos antepassados egípcios (qui ça?) nas fórmulas para, depois de morrer, «sair à luz do dia e viver depois da morte»; «para evitar trabalhar no reino dos mortos»; «para abrir o Ocidente à luz»; «para entrar e sair do reino dos mortos»; para se lembrar «do seu nome no reino dos mortos»; «para evitar a matança que se faz no reino dos mortos» e «para não morrer uma segunda vez» ou «para não comer excrementos e não beber urina»; «para poder beber água e não ficar queimado pelo fogo»; «para sair à luz do dia e abrir o túmulo»; «para impedir que a boca diga disparates»; «para se sentar entre os grandes deuses»; «para permitir que um homem possa regressar e ver a sua casa na terra»; «para escapar da rede»; «para não morrer de novo» e muitas outras interessantíssimas intenções. A edição é ainda enriquecida com o glossário, a bibliografia e o índice remissivo.

É certo que, tal como Eça de Queirós, cada um de nós poderá dizer: «Eu não sou um sábio, como se vê; não tenho a honra de distinguir Ramsés IV de Menephtah II, nem tenho intimidades com múmias, mas creio que o Egito é um país simples, luminoso e claro como a Grécia. Pelo menos não tem nada de misterioso nem de lúgubre. Poderá não ter esta opinião quem nunca foi ao Egito. Mas, diante do Nilo, fica-se com uma grande impressão de singeleza, e de claridade…» (Eça de Queirós, O Egito). E é essa claridade milenar que esta edição monumental do Livro dos Mortos de Luís Manuel de Araújo, cuja edição se avizinha como um verdadeiro acontecimento cultural da maior importância, vai colocar nas mãos de cada um dos seus leitores para o ajudar a sorrir para as difíceis questões da eternidade em cada um de nós. 

J. A. Gonçalves Guimarães

secretário da direção

Visita a Forjães, Esposende

Centro Cultural Rodrigues de Faria, Forjães, Esposende;
 fotografia JFE.

No dia 27 de janeiro, na sequência da palestra da última quinta-feira do mês de 29 de junho do ano passado sobre «Iconografia da História de Portugal em painéis azulejares: o caso da Estação de São Bento no Porto» pela Dr.ª Cristiana Borges Ferreira, e por diligência e empenho do Arq.º José Alberto Carvalho Couto, uma delegação da  associação Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana esteve em Forjães, Esposende em visita de estudo à Escola Alves de Faria e aos painéis de Jorge Colaço aí existentes, bem assim como à Igreja Matriz e a sua Arte Sacra antiga e contemporânea. A delegação foi recebida pelo presidente da autarquia local, Sr. Vitor Manuel Queirós Quintão e outros elementos do executivo, que acompanharam a visita e o almoço num restaurante local, tendo também a colaboração do Prof. Doutor Brochado de Almeida, ex-docente da FLUP, que magistralmente comentou o referido Património e outro da região que também será dado a conhecer em visita a programar aberta a todos os associados. 

Curso sobre História Local e Regional

        Prosseguem as aulas deste curso, presenciais e por videoconferência. Assim, no sábado 10 de fevereiro o Prof. Doutor Amândio Jorge Barros falou sobre «O rio Douro na expansão e descobrimentos portugueses» e no sábado 17 de fevereiro o Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva sobre «Reordenação Moderna do território de Portugal», o qual incluiu o antigo julgado de Gaia e o Termo do Porto, este último precursor medieval da atual Área Metropolitana.

Palestras, Conferências e Colóquios

Nas últimas quinta-feira do mês as palestras no Solar Condes de Resende, também presenciais e por videoconferência, têm contado com a colaboração de vários investigadores, veteranos uns, outros em início de carreira. Assim, no passado dia 25 de janeiro a historiadora da Arte Dr.ª Vera Gonçalves falou sobre o tema da sua dissertação de mestrado «[…] para gozo do público e consulta dos estudiosos: Diogo de Macedo sobre as casas-museu. O caso da coleção de Arte de Fernando de Castro» problemática atualíssima no panorama museológico português. No próximo dia 29 de fevereiro J. A. Gonçalves Guimarães abordará o tema «Dos navegadores portugueses e suas biografias: entre a História e a apropriação de mitos».

Reuniões e Celebrações

No dia 10 de janeiro uma delegação da nossa associação esteve presente na sessão solene do 112º aniversário do Centro Recreativo de Mafamude, coletividade com quem a ASCR-CQ tem estabelecido intercâmbio cultural desde longa data, tendo na ocasião sido falada a possibilidade de colaboração nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Nesta cerimónia foram distinguidos alguns formadores e atletas de várias modalidades, nomeadamente os de idades muito jovens, que se distinguiram em atividades locais, nacionais e internacionais.

Autores , Livros  e Revistas

No passado dia 8 de fevereiro no Palacete Conde de Silva Monteiro na cidade do Porto, onde a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes tem a sua sede e também a Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/ GEHVID), foi feita a apresentação pública da obra Quinta do Tamariz - Lugar de Vinhos com História, da autoria de António Barros Cardoso, ex-professor de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e atual presidente da direção daquela segunda instituição que, para além de monografias e atas de congressos sobre os vinhos portugueses, edita as revistas Douro, Vinho, História & Património. Wine, History and Heritage e Vinho Verde História e Património. History and Heritage. Este livro, com cerca de 300 páginas e que levou quatro anos a ser produzido, desde a inventaria dos arquivos da firma pela Dr.ª Sílvia Trilho até à redação e produção final, agora apresentada ao público interessado, apresenta a História desta propriedade emblemática da Região Demarcada dos Vinhos Verdes desde o século XVI pelos séculos fora até ao seu atual proprietário, Dr. António Borges Vinagre, presente nesta cerimónia e que muito bem se referiu à necessidade das empresas divulgarem também a História das suas persistências e dos seus sucessos. A ASCR-CQ fez-se representar por vários dos seus membros dos corpos sociais.

Integrado nas celebrações do Dia/Mês de Avintes foi lançado no Clube Recreativo Avintense o livro A Breve História da Pequena Pátria de Avintes da autoria do historiador José Vaz, uma compilação de datas, factos e imagens desde 917, a mais antiga referência escrita conhecida a esta freguesia gaiense, mais de mil anos da História compactados nestas 100 páginas de referências.

         Em distribuição o n.º 97 do Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia referente a dezembro de 2023, que apresenta artigos sobre as fundições artísticas de bronze em Vila Nova de Gaia, o pintor Abílio Guimarães, as toradas em Gaia no passado, a Quinta de Enxomil em Arcozelo, o futebolista João pinto e as atividades da associação no último semestre do ano transato.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 186, domingo, 25 de fevereiro de 2024; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.